Gasolina cai para quem? Postos de Fortaleza ignoram redução da Petrobras

Mais uma vez, revendedores mantêm preços inalterados após baixa na ponta inicial da cadeia produtiva.

Escrito por
Victor Ximenes victor.ximenes@svm.com.br
Legenda: Gasolina é encontrada a R$ 6,23 na maioria dos postos de Fortaleza. Preço não mudou após redução da Petrobras.
Foto: Kid Júnior

Lá se vai uma semana desde que a Petrobras anunciou redução de 5% no preço da gasolina para as distribuidoras e, até agora, postos de combustíveis em Fortaleza (pelo menos, a maioria deles) ignoram a retração. 

Não se pode dizer que o movimento — ou a falta dele — surpreende. Os revendedores de combustíveis da Capital acumulam, por anos, exemplos de estratégias de mercado, no mínimo, inusitadas. Na opinião pública, de forma geral, predomina uma imagem negativa deste segmento, vide comentários em redes sociais que se repetem ano após ano.

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Efeito Tartaruga Ninja

Por óbvio, o mercado é livre e cada proprietário deve ter liberdade para definir os preços conforme suas próprias estratégias, mas chama atenção a nítida redução de competitividade neste nicho. Em especial neste ano, postos estão cobrando praticamente os mesmos valores ao consumidor final, limitando o poder de escolha dos motoristas. Anteriormente, observava-se um leque mais aberto de cotações.

Ademais, quando há anúncios de mudanças nos preços da Petrobras, ocorre costumeiramente o efeito 'Tartaruga Ninja'. Os postos agem como ninjas para aumentar os valores nas bombas, e tartarugas na hora de baixá-los.

Exemplo inesquecível

Difícil esquecer episódios nos quais aumentos foram repassados à noite, quando o reajuste só valeria no dia seguinte. Vejamos este exemplo emblemático em 2022. No dia 10 de março daquele ano, a Petrobras havia informado que elevaria os preços da gasolina em 18%, mas o novo valor só passaria a vigorar no dia seguinte (11/3/22). Contudo, no fim da tarde do dia 10, as bombas já apresentaram a gasolina a R$ 7,99, com um aumento estrondoso, durante a crise da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Não raro, quando conveniente, os postos alegam que a Petrobras, por não possuir mais o monopólio do refino, deixou de ser a única fonte. A informação é procedente, no entanto, também é correto que a petrolífera continua tendo fatia muito relevante no mercado (em torno de 75%), então, é esperado que tais oscilações gerem, sim, efeito prático.

Defasagem nos preços

Há também que se pontuar que a redução da Petrobras poderia ter sido mais generosa. Especialistas apontam que a defasagem entre o preço praticado no Brasil e a cotação de paridade estava defasada em 11% (a diminuição real foi de apenas 5%).

Convém ainda contextualizar que o preço da gasolina é composto por diversas variáveis, incluindo os custos e margens de lucro de distribuidoras e revendedores; custo do etanol anidro, que é misturado à gasolina A para formar a gasolina C; impostos federais, como Cide, PIS/Pasep e Cofins; e imposto estadual (ICMS).

Em se tratando de um produto de altíssimo impacto na inflação geral do País, uma vez que influencia uma gigantesca cadeia produtiva, além do consumidor pessoa física, qualquer redução pode ser um alívio.

 

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