O retorno da Mesbla ao varejo brasileiro, após 23 anos, é um prato cheio para a nostalgia. Marcante nos anos 80 e 90, a empresa ainda perdura no imaginário de quem atravessou aquele período.
No Ceará, a varejista "que vendia de tudo" era uma das mais importantes do setor e, pelo peso econômico e afetivo, a marca acabou se entrelaçando com a memória dos cearenses.
No entanto, a reta final da história da Mesbla foi melancólica e conturbada. Com a empresa envolta em dívidas gigantescas por todo o Brasil, os últimos anos de funcionamento tiveram ondas de demissões e questões judiciais multimilionárias com credores.
Mesbla tinha duas lojas em Fortaleza
A Mesbla tinha duas lojas em Fortaleza, uma localizada no Shopping Iguatemi e a outra, no Centro. O porte dos estabelecimentos chamava atenção. Para os padrões da época, os espaços eram avantajados, um padrão da marca em todo o Brasil.
Na metade dos anos 1990, as unidades cearenses geravam 220 empregos diretos e 550 indiretos no Estado. No auge, para se ter dimensão do poderio da empresa, ela chegou a ser uma das 50 maiores pagadoras de impostos do Ceará.
Contudo, a má gestão do negócio o colocou no mesmo bolo de falências que incluiu várias lojas de departamento e redes varejistas naquele período, como Mappin, Paraíso e Arapuã.
Essas companhias acumulavam severos problemas de estoque, ainda decorrentes dos tempos de hiperinflação, e não conseguiram se adaptar a uma drástica transformação pela qual passava o comércio brasileiro, no atendimento e no consumo, principalmente com o crescimento dos shoppings e de novos modelos de lojas.
À época, por exemplo, as Americanas também enfrentaram uma crise, mas encontraram um nicho para sobreviver, saindo do formato de supermercado e migrando para bomboniere, salgadinhos, CDs, itens de cama, mesa e banho.
Dívida impagável e greve de funcionários
A Mesbla não teve a mesma sorte (ou competência). Em 1997, já possuía uma dívida impagável de quase R$ 1 bilhão. Entre os credores, estavam a União, estados, municípios, fornecedores e trabalhadores.
Reportagem do Diário do Nordeste publicada em fevereiro de 1996 noticiou um protesto de 70 funcionários da Mesbla em Fortaleza. Em clima de revolta com a deterioração da companhia, eles deflagraram greve após a empresa anunciar demissões em massa.
Naquele ano, 110 vendedores foram demitidos no Ceará para a implantação da nova política de "auto-serviço" da empresa. Em todo o País, foram 2 mil desligamentos.
A situação crítica da Mesbla se arrastou por mais alguns anos, até que, em 1999, a marca deixou de existir após fechar negócio com Pão de Açúcar, J. C. Penney (Lojas Renner), Carrefour e Riachuelo — que ficaram com os pontos mais valiosos da varejista.
Retorno ao mercado
A Mesbla voltou à ativa neste mês, apenas no mercado de vendas online. O novo marketplace tem um portifólio de mais de 250 mil produtos.
Os empreendedores que retomaram a empresa são filhos de ex-funcionários da Mesbla original