Após muito tempo sem abastecer - obrigado, home office! -, finalmente tive de ir a um posto de combustível nesta semana. O tanque marcava algo em torno de 15% da capacidade. Pedi para completar com gasolina comum.
Finalizado o serviço, indaguei o frentista sobre o valor. "Ficou R$ 195, amigo", disse ele, ao que repliquei com um "eita". O rapaz deu de ombros e exibiu no rosto uma expressão de quem ouvia reações do tipo várias vezes por dia.
Sou assíduo seguidor do tema, até por abordá-lo frequentemente nesta Coluna, e tenho plena ciência sobre a voraz trajetória inflacionária dos combustíveis em 2021, mas este conhecimento em nada amorteceu a pancada de ouvir aquele valor, principalmente após 4 meses sem frequentar um posto.
Cento e noventa e cinco reais. Colocando em perspectiva: quase um quinto de um salário mínimo. Esta monta supera o total que 3,5 milhões de cearenses ganham em um mês. É chocante.
No Ceará, no intervalo de um ano, o preço médio da gasolina já subiu quase 30%. É a maior alta nesta comparação em toda a história. Em meados de 2020, os tais R$ 195 seriam uns R$ 140, uma diferença e tanto.
Inflação pra todo lado
Quem dera as majorações fossem sentidas apenas numa ida ao posto de combustíveis. Visitas ao supermercado também estão de arregalar os olhos.
Como o Diário do Nordeste vem mostrando na Série de matérias 'Por que subiu', as carnes também estão em média 30% mais caras. No caso de arroz e feijão, o salto passa de 60%.
E a energia elétrica? Esta merece outro "eita". Depois de altas nos últimos meses, o consumidor vai arcar com o fardo do novo valor da bandeira vermelha 2: um acréscimo de 52% ao que já estava caro.
O custo de vida no Brasil está excruciante. Resta saber se estamos a observar um desencadeamento de eventos temporário ou se esta tormenta de preços durará.
Impacto nos mais pobres
Se tais fatores representam um estorvo à classe média, imagine então aos vulneráveis.
Este ciclo inflacionário não se mede na dimensão correta por siglas como IPCA e INPC. Por se tratar de uma majoração muito forte em itens essenciais, o impacto social é arrasador, situação que percentuais frios não conseguem traduzir.
Enquanto isso, o Governo Federal faz pouco caso do fenômeno que vem devorando a renda da população. Como de costume, finge que não é com ele. Até reduziu consideravelmente o valor do auxílio emergencial em 2021, um movimento diametralmente dissonante do quadro social em que o País está inserido hoje.
Não adianta celebrar PIB se o poder de compra de dezenas de milhões de pessoas está em decomposição.