Quem conhece o Fortaleza? Vojvoda. Claro que todos nós conhecemos. Mas é natural que Vojvoda conheça muito mais. Dias antes do jogo, havia a preocupação com tantos desfalques. Pelo menos sete atletas estariam fora. E, em tais circunstâncias, o Leão teria de enfrentar o poderoso Palmeiras.
Quando a bola rolou, um Lucero iluminado fez a diferença. E um Pacheco, que lembrou os grandes dribladores do país, matou o jogo. Mas que Fortaleza é este que quebrou a bola diante do então lanterna Cuiabá e se agigantou diante do então vice-líder Palmeiras? Um Leão brabo ou um gatinho manhoso?
Divido o Fortaleza em dois. Um Fortaleza valente, incisivo, arrasador. E um outro Fortaleza mambembe, sumido, aparvalhado. Ainda bem que o Fortaleza incisivo é mais constante. O Fortaleza aparvalhado é exceção. O Leão sumiu na fase final diante do CRB na decisão da Copa do Norte. Sumiu também diante do Cuiabá.
De repente, ressurge o Fortaleza destemido, que encarou o Boca Juniors em plena Bombonera. O Fortaleza que não tomou conhecimento do Palmeiras, um dos melhores times do Brasil. Por que o Fortaleza se divide em dois: o excelente e o ruim? Nem Vojvoda explica.
Não consigo entender estas oscilações profundas que acontecem no Fortaleza. Ora, dá show; ora não joga nada. O elenco é o mesmo, de elevada categoria. Para mim não tem explicação. Para o meu colega de bancada, Sávio Manfredini, o Fortaleza joga mais e melhor quando diante das grandes equipes. Agiganta-se nos grandes espetáculos.
Em parte, concordo com o Sávio Manfredini. Nos grandes desafios, o Fortaleza realmente se mostra pujante, maior. Quanto mais holofotes, mais o Fortaleza brilha. Mas não deveria ser assim. É compreensível baixar o ritmo nos jogos menos importantes. É normal. Tudo bem. Mas não é normal nem aceitável vê-lo sumir vez por outra em campo.
O problema do Ceará é apenas o treinador? Não é. O elenco tem suas limitações. O problema do Ceará não está somente em campo, nas quatro linhas. O problema do Ceará está também no alto, na cúpula. O problema do Ceará está nas graves divergências internas. O problema do Ceará vai muito além da simples distribuição de camisas.
Volto a bater na mesma tecla: se não houver a pacificação no setor diretivo alvinegro, os reflexos negativos em campo continuarão acontecendo. Inocente que acha que a desunião na cúpula não entra em campo. Pode até haver exceção, mas é coisa rara. Clube desunido corre mais riscos do que os clubes ajustados e em paz.
Torço para que haja um novo clima em Porangabussu, a partir do comando do novo técnico do Ceará. Mas, volto a repetir: uma andorinha só não faz verão. Mudar de técnico sem mudar as práticas é chover no molhado. Há muitas outras coisas que precisam ser mudadas em Porangabussu. Cada um coloque a mão na sua própria consciência.