Em defesa da memória das mulheres cearenses

Que mulheres você associa à história cearense? É preciso um esforço para que os primeiros nomes venham à memória. Ouso dizer que, muito provavelmente, Bárbara de Alencar estará entre os dez primeiros. Mas o que sabemos sobre ela? Esteve envolvida na Revolução Pernambucana e na Confederação do Equador, foi detida e presa, tornando-se a primeira presa política do País. Mas lhes digo que isso é pouco diante da grandeza desta mulher.

Veja também

Nascida em Exu, no sertão de Pernambuco, Bárbara se mudou ainda adolescente para a cidade do Crato. A mãe de José Martiniano de Alencar e Tristão Gonçalves e avó de José de Alencar era uma republicana que não se privou de entrar na luta pela defesa dos seus ideais de País. Acredita-se que, por isso, foi presa durante a Revolução Pernambucana (1817), quando foi a única mulher a participar ativamente do movimento, e morreu após peregrinações devido a perseguições políticas.

São 189 anos desde sua morte e até hoje as informações concretas sobre ela são esparsas. Não se sabe ao certo sua fisionomia. Diz-se que, a partir de uma única imagem descrita por sua tetraneta, ela era uma mulher alta e forte, de porte quase masculino. Seus restos mortais provavelmente estão sepultados no município de Campos Sales, localidade mais próxima de onde foi morta, na cidade piauiense de Fronteiras.

Dona Bárbara, como é carinhosamente chamada no Cariri, ganhou estátuas, ruas e prédios que levam o seu nome. Na Capital e na região do Cariri. Mas todas as representações partem desta mesma imagem, que não se sabem quão fidedigna é. O mesmo se diz de seus restos mortais que, estiveram em vias de exumação para que se confirmasse se tratar realmente de dona Bárbara, mas a análise acabou por ser suspensa em atenção à manifestação da comunidade local.

A atriz-pesquisadora e gestora cultural Dane de Jade, coordenadora da Escola Vila da Música e do escritório regional da Secult no Cariri, aponta que não há uma justa homenagem à dona Bárbara, uma homenagem para uma mulher que é nossa heroína, que desbrava questões do feminino. Como ela diz, uma mulher de luta, do destemor. A pesquisadora anuncia a produção de uma ópera popular que dê conta do contexto político, social, feminino dessa mulher.

Ao mesmo tempo que espero por esse e outros movimentos que venham nos contar sobre Bárbara e popularizar sua luta, lhes pergunto: e se fosse um homem, um herói cearense, teríamos ainda tantas lacunas assim?  

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.