Você gosta do trabalho de artistas ou só de famosos?
Uma reflexão sobre o que apreciamos e entendemos como artista

Nesta semana, o programa Encontro com Patrícia Poeta, gravado em Fortaleza, recebeu um velho conhecido do público, o poeta Bráulio Bessa, um artista grandioso que orgulhosamente posso chamar de conterrâneo. Na ocasião, Bráulio fez uma fala sobre como o brasileiro não gosta de artista e, sim, de famoso. Aproveito essa análise pertinente para fazer algumas perguntas a quem lê minha coluna:
- Quando você diz gostar de arte, significa que você é um consumidor dela ou apenas dá like no que é viral?
- Você costuma ir ao teatro para ver espetáculos produzidos por grupos locais ou vai apenas quando há celebridades no elenco?
- Quando você vai ao cinema, opta por ver filmes brasileiros ou prefere assistir apenas filmes estadunidenses blockbusters? E no streaming, você costuma ver algum filme ou série nacional?
- E na música, você costuma ouvir o quê? Costuma ir a shows? Tem costume de pagar ingressos de alto valor para ver artistas famosos, mas reclama do valor do couvert nos bares? E shows de artistas locais, você vai?
- Frequenta os equipamentos culturais da cidade? Vai a museus? Lê a literatura regional? Compra obras de artesãos?
Essas perguntas são importantes para que possamos fazer uma autoanálise sobre nosso envolvimento com a arte ou se estamos apenas consumindo o que passou na televisão, o que tocou no rádio ou viralizou na rede social.
Todo artista deseja ter o devido reconhecimento e sucesso, como qualquer outro profissional. Contudo, como em todo mercado de trabalho, há aqueles que conseguem acessar este lugar de desejo e outros que seguem outros caminhos, mas ambos possuem sempre o desejo de chegar ao espectador e causar-lhe afetação.
A venda do ingresso, do quadro, da peça ou produto não significa apenas uma troca mercadológica, mas também uma comunhão do fazer, expressar e receber, uma relação que não é palpável, mas é extremamente transformadora.
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O artista empresta sua capacidade de olhar o mundo numa tentativa de reformular conceitos e construir novas percepções no espectador e o público, que verdadeiramente gosta de arte, entende que esse processo é inegociável e se interessa, especialmente, por essa circunstância.
Não é à toa que nos tempos de hoje é facilmente identificável o que é uma obra que será esquecida nos próximos meses até a chegada de outro viral, ao passo que artista conseguem atravessar o tempo e continuarem fortes, atuais e potentes de forma atemporal. Com o uso intenso de redes sociais, é preciso que saibamos diferenciar se gostamos de artistas ou de gente famosa, se apreciamos arte ou uma trend, se consumimos uma obra artística ou se somos apenas um número das bigtechs.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor