Verde e amarelo também são cores do arco-íris

Imagina viver em um mundo em que vestir a camisa da Seleção pode fazer com que você seja confundido apenas com um fã de Madonna e Pabllo Vittar

Legenda: Uso de roupas com verde e amarelo foi estimulado na 28ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo neste fim de semana
Foto: Miguel Schincariol / AFP

Há muito tempo eu não via uma multidão na Av. Paulista exaltando as cores da bandeira do Brasil com tanta alegria. Esse ajuntamento de verde e amarelo em passeata vinha me causando arrepios e pesadelos desde a eleição presidencial de 2018, mas ontem foi diferente. 

Se nos últimos anos, deixamos de usar esses signos, como a camisa da Seleção, para não sermos confundidos, por não nos sentirmos representados por aqueles que roubaram nossa identidade, o domingo foi para mudar a história, tirar a vergonha do armário e vestir essa peça com orgulho, afinal, o verde e o amarelo também são cores do arco-íris. 

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Com a temática voltada para questões eleitorais, a maior Parada LGBTQIA+ do mundo provou que está longe de ser somente uma celebração, provocando as pessoas sobre o voto consciente nas eleições. Em 2024, vamos eleger prefeitos e vereadores e o nosso olhar precisa, sim, estar atento a quem possui pautas que contemplem a nossa comunidade. 

Precisamos entender que não é porque já não temos um governo de extrema direita à frente do país, que vivemos em um lindo vale de amor e liberdade. Em outubro do ano passado, por exemplo, o Brasil debatia o fim do casamento igualitário. Vou deixar mais claro: há poucos meses, nossos parlamentares retrocediam e voltavam a debater questões bá-si-cas na nossa cidadania

28ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo ocorreu neste domingo, 2 de junho
Legenda: 28ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo ocorreu neste domingo, 2 de junho
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Sem contar que permanecemos no topo do ranking de país que mais mata sua população LGBTQIA+, que seguimos com índices de violência e violação de direitos alarmantes, que seguimos sem acesso amplo e irrestrito ao sistema de saúde, que seguimos abandonando escolas e excluídos do convívio familiar e do mercado de trabalho. 

Avançamos muito, eu sei, e isso, de fato, é para se celebrar, mas nossos corpos, além de brilhosos e dançantes, devem estar também atentos e fortes, conscientes das pautas políticas, optando por votar em quem pode transformar a nossa sociedade. Mais do que nunca, o verde e amarelo deve voltar a ser vestido e usado com orgulho, e não com vergonha. 

Precisamos mostrar que o jogo virou e que essas cores pertencem a todos os brasileiros. Então, desejo que eles - daquele grupo do lado de lá - antes de vestirem a camisa da Seleção para gritar baboseira na rua, acampar em quartel, pendurar-se num caminhão ou rezar para pneu sintam que possam ser confundidos com qualquer gay fã de Madonna e Pabllo Vittar

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor

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