Recentemente, li uma matéria sobre a participação do ator Vladimir Brichta no podcast “Novela das 9”. O ator de “Quanto mais vida melhor”, folhetim das 7 da Rede Globo, criticou o movimento existente no mercado audiovisual brasileiro, onde produtoras exigem números de seguidores no Instagram em testes de elenco para atores. Brichta é categórico e diz ser uma “burrice”.
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Me senti muito contemplado com a fala de Vlad e achei interessante a forma como ele se posicionou, porque de forma alguma condenou a contratação de artistas que sejam também influenciadores. Entretanto, questionou o mercado que aposta mais em dados de alcance de redes sociais do que na capacidade, responsabilidade, formação e competência do contratado.
De fato, não é engajamento na internet que forma um bom ator, mas também não acho de todo mal que essas figuras ganhem espaço no cinema, TV e streaming, afinal, se não houver espaço, talvez deixemos de encontrar pessoas talentosas nesse meio ou até limitemos essas celebridades de conseguir experiências e profissionalização.
Mas é aí que vem a famosa frase Shakespeareana: “Ser ou não ser, eis a questão”.
Estamos aqui falando de celebridades que adentraram nas produções apenas para gerar acessos ou falamos de artistas interessados em ampliar suas habilidades, se dedicando ao novo ofício, respeitando seus colegas experientes, compreendendo o árduo estudo de mesa, a imersão do processo no intuito de alcançar a difícil tarefa de atingir o espectador através da catarse, da identificação, da emoção?
Estamos nós, atores, errados, atrasados, estacionados? Será que devemos repensar todas as horas dedicadas em livros e teóricos acerca do nosso ofício? Rasgar nossos diplomas e certificados? Deixar de produzir clássicos de 2 horas e começar a fazer espetáculos de 15 segundos?
Seria o destino do artista a obrigação de ter um perfil em rede social com milhões de seguidores e movimentá-lo para produzir engajamento e com isso um papel, um contrato?
Será que deixaremos os testes de elenco de lado ou mesmo o histórico, o talento e a competência para avaliar se uma pessoa pode ou não fazer seus seguidores irem ao teatro, ao cinema, dar streaming?
De quem é a culpa disso tudo? Dos influencers que aceitam projetos sem estarem preparados? Dos atores que se forçam a criar conteúdo para a internet? Do mercado que valoriza mais o quantitativo do que o qualitativo? Da publicidade que faz exigências de engajamento? Do público que não se importa com essa discussão e que apenas clica nos algoritmos sem perceber que fortalece uma desqualificação daquilo que consome?
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Não tenho respostas exatas para essas perguntas, mas sei que é necessário refletir sobre esse movimento. A pressão que recai sobre nós, artistas do teatro, cinema e televisão, tem sido cada vez maior. Não basta estudar, se dedicar ao ofício, fazer uma faculdade, ler dezenas de livros, participar de diversas oficinas e cursos se você não tiver milhões de seguidores no Instagram, TikTok, Kwai, Twitch ou Twitter.
A sensação que fica é de que o mercado audiovisual não está mais preocupado com a potência da obra a partir do processo criativo de dramaturgia, direção e atuação, mas de como irá alavancar espectadores a partir de seu elenco de estrelas da internet. E quanto mais penso sobre o assunto, mais chego à conclusão de que, definitivamente, ser famoso não é o mesmo que ser artista.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.