Ceará perdeu uma de suas maiores referências no humor e no teatro

Raimundinha e seu criador serão eternos

Legenda: Paulo Diógenes entregou amor e sonhos pintando o rosto para viver
Foto: Reprodução YouTube

A música “Sonhos de um palhaço”, de Antônio Marcos, só me traz à memória a imagem do grande Paulo Diógenes se despindo de Raimundinha e incorporando, em cena, a imagem de um palhaço que canta a sua solidão à espera da hora de sonhar.

Em um movimento antropofágico, artista e personagem se transformam em uma terceira figura cênica na frente do público, numa condução majestosa que partia do riso e levava à melancolia, à reflexão, sem que a cena perdesse a magia, pelo contrário. Esse número é tão grandioso que se tornou um marco para o teatro cearense, uma marca de Paulo, sempre arrebatando plateias.

No palco da ilusão, Paulo entregou amor e sonhos pintando o rosto para viver. E quando falo em viver, não me refiro apenas à questão do trabalho, à necessidade de ganhar dinheiro e construir um futuro como artista, mas àquilo que o artista tem de mais precioso: a pura necessidade de fazer arte.

Assim se faz um grande artista, pintando o rosto mesmo sem querer, quase que por obrigação. A essência do artista é ser um apaixonado pelo seu ofício. Ele não sabe fazer outra coisa que não seja estar em cena, se relacionando com o público e Paulo era isso. Impossível olhar para Paulo e não ver sua alma de palhaço, sua Raimundinha.

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Criar a Raimundinha, inclusive, foi o maior legado que ele nos deixou, porque muito maior do que uma personagem, ela foi um jeito de fazer humor único, uma forma de subir no palco e sustentar um artista. Paulo encontrava nela o caminho de impactar e dialogar com pessoas, levar alegria, sentir-se feliz, sem a timidez que ele carregava.

Como artista, além de suas demandas, sempre esteve atento aos novos talentos, indo assistir trabalhos em cartaz e oferecendo auxílio, buscando interagir, dando conselhos e, acima de tudo, se permitindo ouvir e compreender os rumos do humor nas novas gerações. Como militante, lutou pela promoção da cultura, dos Direitos Humanos, dos direitos da população LGBTQIAP+ e no enfrentamento às drogas.

Definitivamente, o mundo sempre foi um circo sem igual, onde todos representam, mas Paulo sempre se mostrou uma pessoa do bem, carinhosa, querida, dedicada à família e disposta a ajudar. O Ceará e o Brasil perdem um grande artista, o humor e o teatro perdem um grande mestre.

Salve Raimundinha!

Salve o sonho de um palhaço chamado Paulo Osmar dos Santos Diógenes, nosso Paulo!

 

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor