'Cadê o teatro que tava aqui?'

Foto: Reprodução/ Pavilhão da Magnólia

No dia 27 de março, comemora-se o Dia Mundial do Teatro e do Circo, uma data super especial para todos nós, profissionais da arte de produzir espetáculos, que trabalhávamos, prestigiávamos e nos reuníamos para celebrar o fazer artístico, quase como uma confra da firma. Em 2022, a celebração deu lugar à luta e apenas uma coisa passa em nossa mente nos últimos tempos: Cadê o teatro que tava aqui?

Diversos coletivos teatrais têm cobrado veementemente posições dos órgãos públicos no que diz respeito à cena teatral cearense e agora um manifesto ganha as redes sociais, assinalando não só os teatros ausentes da cidade de Fortaleza, como também expressando ausências de programações continuadas em equipamentos culturais. Inclusive, já falei algumas vezes sobre a importância do debate dessa situação aqui na coluna.

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Com faixas postas na frente de cada teatro público da Capital, a classe artística questiona, por exemplo, até quando vai a reforma do Teatro Sesc Emiliano Queiroz, que teve início em 2019 ou quando a gestão irá propor cachês condizentes com o mercado atual e deixar de ofertar o defasado valor de R$ 1000.

O manifesto indaga também por que a Secretaria de Cultura do Estado não deu continuidade às ocupações pensadas e desenvolvidas pelos projetos que passaram pelo Teatro Carlos Câmara ou ainda por que o Teatro São José segue fechado depois de uma reforma milionária? Por que o Teatro Antonieta Noronha segue sem programação?

E a Caixa Cultural? Até quando seguirá sem dialogar com os coletivos da cidade para além de editais? Por que a Rede Cuca, com cinco teatros, segue sem apresentações para a juventude, sem levar cultura para as periferias? Não é esse o intuito do equipamento? E o Theatro José de Alencar? A maior casa de teatro do Ceará permanecerá com orçamento precário que impossibilita melhorias nas condições técnicas do espaço?

Gestores do Dragão do Mar, por que não há uma reforma decente no teatro? Por onde anda a programação do Palco sob a Passarela? E o Centro Cultural Banco do Nordeste, por quais motivos o espaço segue sem condições para uma programação de qualidade? Onde está a política de ocupação do Teatro Universitário Paschoal Carlos Magno e o seu Curso de Arte Dramática?

É de se indignar que este setor da cultura esteja tão abandonado. Todos essas perguntas representam um chamado de diversos coletivos com o intuito de abrir os olhos das instituições sobre o papel fundamental do diálogo com a classe, sobre investimento cultural, atualização de cachês conforme as mudanças econômicas, programação ativa e efetiva e várias outras pautas extremamente importantes.

O atual cenário das produções teatrais da Capital não é culpa dos coletivos, pelo contrário. Os grupos estão desejosos por incentivos, para produzir, para estar em cena, porém, como fazer isso se não existem condições ou fomento que possam garantir a existência, resistência ou insistência da classe?

Dia 27 de março sempre foi uma data relevante no calendário do Ceará. Sempre que chegava esse período do ano, Fortaleza se preparava para encher os palcos e plateias de vários teatros, com programações culturais que tinham início ainda nas primeiras horas da manhã, com eventos infantis, cursos, cortejos e seguiam ao longo do dia. A noite chegava e trazia grandes espetáculos locais ou nacionais, culminando num grande baile celebrativo.

Quero tudo isso de novo.

Queremos! Artistas e público.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.