Viver de arte no Brasil nunca foi fácil. Com a chegada da pandemia, a situação ainda piorou. Estamos há quase dois anos em estado grave de saúde também na classe artística e a última onda de Covid-19 voltou a paralisar nossas atividades. Somente as nossas atividades.
Veja também
Se olharmos para a programação teatral de Fortaleza, por exemplo, veremos um enorme vazio. Os equipamentos públicos, como o Teatro São José, Theatro José de Alencar, Antonieta Noronha, Dragão do Mar, Carlos Câmara e Cineteatro São Luiz não ostentam mais nenhum cartaz de espetáculo de grupos locais com temporadas de apresentações - estratégia essencial para a manutenção de coletivos.
Nas últimas semanas, o Fórum de Teatro de Fortaleza veio à público questionar sobre a execução do Festival de Teatro de Fortaleza (FTF), principal evento do calendário teatral da cidade, previsto por lei, através da Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor). A última edição do festival aconteceu em 2019 e foi suspenso em 2020 e 2021 por conta da pandemia, mas a promessa era de que a 14ª edição seria realizada em março de 2022.
Com a data se aproximando e sem respostas da Secultfor, o Fórum se posicionou. Com a cobrança, no último dia 11 de fevereiro houve uma reunião entre artistas, produtores culturais e a secretaria, sendo aberta uma consulta pública sobre o edital. O adiamento desse processo até aqui acarreta no atraso do retorno da classe artística aos palcos cearenses. Precisamos de compromisso e de anúncio de datas.
É evidente que estarmos em uma pandemia, nos leva a cuidados extremos. Precisamos cuidar de nossa saúde e não tratar de forma leviana. Porém, sabemos que é possível, com a clareza que temos hoje, seguir protocolos de segurança, como uso de máscaras e passaporte vacinal, até porque os bares, casas de shows, festas, restaurantes e shoppings seguem abertos e lotados.
Reabrir esses espaços de cultura, retornar com temporadas de espetáculos e cumprir o FTF com celeridade é urgente. Trata da sobrevivência de uma parte do setor cultural de extrema importância, afinal, não estamos falando apenas de artistas, mas de toda a cadeia de técnicos, produtores e serviços indiretos.
Acompanhar colegas de profissão buscando outras formas de sustento pessoal e familiar, que não pela Cultura, é muito doloroso. Todo trabalho é digno, mas ver tantos artistas e produtores brilhantes abandonando carreiras, sonhos, projetos de vida e promessas de futuro por falta de fomento é triste.
Secretarias da Cultura, precisamos reabrir os teatros, precisamos de programações regulares, precisamos de temporadas presenciais que garantam vínculo entre artistas e público, precisamos fortalecer a produção e a cena teatral do Ceará, precisamos do Festival de Teatro de Fortaleza para valorizar e difundir a pluralidade do fazer teatral.
Classe artística, que possamos ficar ainda mais atentos aos debates acerca de nossas linguagens. O Edital das Artes e o Edital Cultura Infância seguem com inscrições abertas até o dia 25 de fevereiro. O FTF segue em consulta aberta para a população, artistas e produtores sobre o edital até quinta-feira (17) e as contribuições podem ser enviadas para o e-mail coordenacao.cocrif@gmail.com.
A Cultura também precisa vencer a pandemia.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.