O que as falas de Lula sinalizam para o futuro da usina de biocombustível de Quixadá
Fortalecimento do mercado de biodiesel poderia transformar a usina no Ceará como ponto de fornecimento do combustível para outros estados no Nordeste
A usina de biodiesel em Quixadá poderá ter ganhos de atratividade nos próximos meses, caso a expectativa de agentes do setor sobre medidas do próximo governo sejam confirmadas. À coluna, especialistas consultados disseram não haver, ainda, uma decisão oficializada pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre investimentos no biocombustível, mas que já há diálogos entre a equipe de transição com o mercado para a definição dos novos planos. Esse cenário pode impulsionar as atividades de produção no Ceará e atrair até possíveis novos investimentos.
Em entrevistas após eleito, Lula já afirmou haver sinalizações positivas para o setor de biocombustíveis. Ele se comprometeu com pautas ambientais, citou a produção de baixo carbono, indicando a descarbonização, e integração das metas ambientais.
Esse cenário, segundo Expedito Parente Jr, coordenador de inovação da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado (Sedet), pode ser importante para fortalecer o mercado nordestino e ajudar a reduzir custos de alguns combustíveis no futuro, como o diesel.
A perspectiva, contudo, ainda depende de definições e indicações do próximo governo, que ainda trabalha na transição após as eleições do último mês de outubro.
Apesar do mercado ainda viver uma expectativa, o fortalecimento do mercado de biodiesel poderia transformar a usina no Ceará como ponto de fornecimento do combustível para outros estados no Nordeste, de acordo com Parente Jr, considerando as plantas já existentes na Região.
“Sem dúvida, há uma propensão desse governo impulsionar o biodiesel, até porque a pauta verde é uma bandeira do presidente Lula e esse programa foi criado no último governo dele, então há uma chance de vermos a indústria do biodiesel voltar a crescer de forma favorável em relação a anos anteriores quando as porcentagem de mistura foram reduzidas”, disse.
“Como essa indústria depende muito da demanda, ao aumentar a porcentagem do biodiesel no diesel, você fortalece todo o setor. No Ceará, a planta de biodiesel mais próxima que nós temos fica Bahia, além de termos uma planta pequena no Piauí, então há um custo muito grande para o transporte do biodiesel a ser misturado no Ceará. Ter uma planta em Quixadá ajuda a atender o mercado no Ceará, considerando a capital e outras cidades, além de Teresina, no Piauí, Natal, João Pessoa”, explicou.
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Transição energética
A perspectiva é corroborada pelo economista e membro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE) Ricardo Coimbra, que ainda destacou o potencial de fortalecimento do processo de transição energética no Brasil. E
Essa iniciativa ainda poderia reforçar o papel do Ceará nessa mudança de perfil de produção de energia, considerando o ambiente que vem sendo construído ao longo dos anos para gerar investimentos em hidrogênio verde e energias renováveis.
Repensar o biodiesel e a capacidade de produção desse combustível pode ser interessante para o fortalecimento das bases de produção em diversas regiões do País, como o Ceará. Busca-se fortalecer a economia do mar, o hidrogênio verde, e você tem a estrutura produtiva no Ceará que foi levado a pouco direcionamento".
Segundo ele, "A partir do mundo que se busca fortalecer essas energias, e temos a potencialidade na nossa região, é importante que se busque captar investidores estrangeiros parceiros desses potenciais projetos, na perspectiva que vem acontecendo com a energia solar, a offshore, eólica e no hidrogênio", disse.
“Estruturar uma cadeia produtiva pode ser uma boa oportunidade para a planta instalada aqui no Ceará fazer parte dessa composição de energias renováveis exportáveis aqui no Ceará. O Estado se fortaleceria em todas as cadeias de energias renováveis, então é uma boa alternativa. Mas é preciso conseguir trabalhar isso de uma forma conjunta com a iniciativa privada local ou internacional”, completou.
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Impactos e subsídios
Por outro lado, na avaliação do economista Alex Araújo, a estratégia de incentivo ao setor de biodiesel pode não gerar os resultados esperados caso o modelo já utilizado em anos anteriores seja repetido. Essa projeção pode atrapalhar o desenvolvimento do mercado no Ceará e, por consequência, deixar de gerar impactos muito positivos para usina de Quixadá.
“Há dois aspectos para analisar nesta questão: a do preço do petróleo, que possui tendência de redução e deverá exigir algum subsídio para viabilizar o biodiesel e a questão do público alvo que se pretende atingir com o estímulo. Acredito que o foco seja a agricultura familiar, como se foi tentado no passado. A produção é um pouco incerta e sem escala, de modo que, sob o aspecto empresarial, exigirá muito esforço de coordenação e o permanente estímulo com subsídio”, ponderou Araújo.
Dessa forma, se o propósito foi criar uma alternativa de renda estável para a agricultura familiar, seria mais "moderno" focar nas energias solar ou eólica, permitindo que a pequena propriedade fizesse condomínios e acesse ao mercado de energia”
O economista ainda destacou que a produção de biodiesel, muitas vezes, utiliza alimentos, como o milho, na fase de fabricação, algo classificado como “inviável”. “Ainda há questão do uso de alimentos para produção de combustível que já se mostrou inviável”, disse.
Entrada de grandes empresas
Considerando esse cenário, Araújo apontou ainda que projetar a utilização do biodiesel como alternativa de combustível veicular pode, também, não ser a melhor alternativa, pois o cenário dependeria de subsídios acima da média. A extração do pré-sal, poderia ser mais vantajosa.
“Por outro lado, se for como alternativa para o combustível veicular, com produção por grandes grupos empresariais, não se vê sentido no subsídio dessa produção. O custo de extração do pré-sal é muito mais competitivo e dispensa o subsídio”, explicou.
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