O Brasil já vem sentindo os impactos da valorização do preço do barril do petróleo em quase toda a economia há um bom tempo, mas no Ceará, as últimas pressões do mercado internacional, segundo os especialistas, deverão pressionar mais ainda alguns segmentos. A lista inclui as produções de calçados, embalagens, além de parte da cadeia logística no Estado.
"A gente previa já um crescimento do preço do barril de petróleo, mas isso acabou sendo maior pela tensão entre Rússia e Ucrânia, e como consequência desse patamar alto, os países que dependem desses combustíveis acabam sendo impactados, como o Brasil, além de termos a equiparação do mercado interno com o externo pela política de preços da Petrobras. Como consequência, temos um aumento dos custos logísticos, e vários setores vão sentir uma elevação média dos custos de produção", destacou o economista Ricardo Coimbra.
O conselheiro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE) ainda destacou que, no Ceará, os setores de calçados e embalagens deverão ser os mais impactados, já que dependem de petróleo e derivados para produção. E essa dependência vem sendo pressionada constantemente, já que o barril de petróleo acumula uma valorização de 45,02% nos últimos 12 meses, estando cotado a mais de US$ 91.
"Os segmentos de calçados, que têm uma composição na cadeia de produção, o segmento de embalagens, além de produtos que tenham a utilização da base do petróleo, terão um impacto dessa elevação de preços, mantendo esse nível de inflação. Temos visto que esse problema não é só monetário, mas também de custo, então o Banco Central pode tentar outras intervenções além de iniciativas monetárias, mas também não seja a intenção do Governo no momento", explicou Coimbra.
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A perspectiva sobre aumento de preços médios no Ceará foi corroborada pelo economista Aléx Araújo, que citou os setores de calçados, embalagens e dos produtos que dependem da cadeia logística no Estado, que deverão ser os mais impactados.
Já o setor de vestuário, que poderá sofrer oscilações de custo no Brasil, pode ter um cenário menos difícil no Ceará, por estar mais concentrado no mercado local.
"Grande parte do nosso consumo corrente, de uso pessoal, de produtos do lar é produzido fora, mas a indústria de calçados e embalagens é muito impactado, assim como o comércio atacadista. Já o setor de vestuário acaba investindo muito em produção local, então pode não ser tão impactado", disse.
O cenário de pressão inflacionária causada pela alta do petróleo, no entanto, não é um problema isolado do Brasil ou do Ceará. Araújo ainda apontou que vários países vêm passando por momentos de transição energética, visando a descarbonização e a redução dos impactos da economia sobre o meio-ambiente.
O problema é que, enquanto se busca uma nova fonte de energia, principalmente para os meios de transporte, o preço do barril de petróleo deve continuar em um patamar mais elevado enquanto durar essa transição. Como algumas petroleiras internacionais estão reduzindo investimentos em prospecção, a produção mundial poderá ter níveis reduzidos nos próximos anos, impactando as nações que não fizeram a transição de forma correta.
"Esse movimento todo tem um impacto direto no Ceará, e também temos um problema estrutural, porque as maiores companhias de petróleo diminuíram investimentos em prospecção então devemos ver uma pressão no preço do barril nos próximos anos. Além disso, no Brasil, estamos atrasados nessa transição energética", disse.
"Quando a gente olha para o transporte rodoviário, não temos uma política de transição e não sabemos que modelo vamos usar aqui no País, então sofremos um pouco mais e devemos levar mais tempo", completou Araújo.
Apesar de vários países do mundo estarem enfrentando problemas semelhantes, Araújo destacou não haver consenso ainda sobre a melhor forma de contornar essa inflação de custos. Alguns países têm discutido a criação de subsídios momentâneos e elevações de taxas de juros, como no Brasil, mas não se chegou a uma definição, segundo o economista.
"O petróleo tem pressionado a inflação em todos os países, mas há uma discussão em aberto se não deveríamos buscar soluções intermediárias porque o impacto dessa transição nunca foi estimado, mesmo nos países com agendas avançadas no exterior. Então essa questão está muito em aberto", disse Araújo.
"No caso do petróleo, sobre redução de imposto ou criação de fundos de estabilização, isso está sendo discutidos no mundo todo, como na Inglaterra. Mas é uma discussão que está rolando e ainda não se chegou a uma solução concreta", completou.