Solidariedade ao Vyni, jovem gay que vive a roubada afetiva de se apaixonar por um hétero

Falta de empatia é conduta típica no mundo virtual e também fora dele. O que surpreende e enobrece é a solidariedade

Legenda: Eli, que tinha ficado com a Maria (desclassificada), agora namora com a deslumbrante Nat. Vyni assistiu ao primeiro romance e agora presencia o segundo
Foto: Reprodução/gshow

Preciso hoje ocupar este espaço para prestar solidariedade ao nosso representante no BBB, o Vyni.

Por imperícia, não farei análise psicológica do que sente o brother. Só o próprio poderia fazer e com ajuda de profissional da área de saúde mental. Mas aqui quem escreve é alguém que, além de analisando, já viveu a roubada sentimental de amar sem correspondência num mundo predominantemente heteronormativo.

Que atire a primeira pedra de baladeira o gay ou a lésbica que nunca tenha tido uma paixão platônica por um hétero. Acontece com os melhores seres humanos. Se você não teve essa sina, levante suas mãos para o céu e agradeça, parafraseando o Kid Abelha. Mas, se viveu isso, saiba que não é vergonha para ninguém. 

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Vyni parece ter por Eliezer um sentimento que ultrapassa a amizade. Abravanel, inclusive, percebeu isso e na última festa ficou fazendo a linha cupido. Não deu certo. Eli, que tinha ficado com a Maria (desclassificada), agora namora com a deslumbrante Nat. Vyni assistiu ao primeiro romance e agora presencia o segundo.

Por causa disso, houve quem tirasse onda da cara do Vyni. Mangasse dele, como dizemos no Ceará. Falta de empatia é conduta típica no mundo virtual e também fora dele. O que surpreende e enobrece é a solidariedade. E ela é necessária, sob pena de continuarem os incautos entendendo que, no mundo, há os que têm direito ao amor e os que não nasceram para tanto.

Vejamos as características do querido Vyni: gay, negro, nordestino, baixinho e com trejeitos que o distanciam do ideal de masculinidade imposto na sociedade. Até no meio LGBTQIA+, o Vyni sofreria preconceito e teria dificuldade para bancar o próprio desejo. Só que esse mundo velho está se desfazendo apesar de esforços pontuais aqui e ali, onde se usa do discurso da tradição para perpetuar privilégios.

Vynis, PHs e outros homens gays merecem o amor e vão encontrá-lo. E esse sentimento chega quando a gente percebe que é preciso, antes, amar-se. É o autoamor de Ermance Dufaux. É a autovalidação de Alan Downs. Repare que, assim como a psicologia, até o mundo espiritual nos ensina que o amor-próprio é a base de uma vida afetiva saudável.

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Legenda: É preciso trilhar o caminho do autoconhecimento. Aquilo que não mata é capaz de te fortalecer e de te ensinar a viver
Foto: Reprodução/gshow

Custa a acontecer? Custa. Pode não acontecer? Pode. Há, sim, quem fique para titio, que fique no caritó. Qual problema? Antes a solteirice com liberdade do que o casamento castrador. Mas o amor-próprio é infalível. Ele é o nosso verdadeiro complemento. E se aprende a tê-lo com vontade própria e ajuda das pessoas, dos pais amorosos à convivência com amigos verdadeiros.

Vyni, assim como você, também já vivi uma roubada afetiva. Passou. A sua também vai passar. E você vai encontrar um parceiro que vai te amar e topar construir com você o afeto fundamentado no respeito, no carinho e no cuidado mútuos. Mas, antes que isso aconteça, é preciso trilhar o caminho do autoconhecimento. Aquilo que não mata é capaz de te fortalecer e de te ensinar a viver.

Como gostaria de entrar no confessionário e te dizer que é verdade este bilhete: você merece e vai ser amado. Espero, sinceramente, que você, ainda dentro da casa, aprenda que é preciso gostar de quem gosta da gente. Afinal, parafraseando Clarice Lispector, todos temos o nosso limite, e o primeiro deles é o amor-próprio.