São pelos menos 214 fósseis de insetos retirados do Cariri à venda num portal dos EUA. É possível encontrar até a libélula, símbolo do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, que fica em Santana do Cariri. Ela custa 2,9 mil dólares: cerca de R$ 14.900! Se precisar, mandam entregar aqui em Juazeiro do Norte desde que se pague um frete de R$ 1793,01.
A oferta está no portal da Indiana9 Fossils & Prehistoric Fossils, que fica no estado do Missouri. O proprietário, Merv Feick, diz que sempre foi fascinado por dinossauros e sonhava em ser paleonolólogo. "Deus tinha um plano diferente para mim e eu me tornei um bombeiro", escreveu.
Em 1997, Merv retomou o sonho antigo, mas, em vez estudar Paleontologia, começou a comprar fósseis e revendê-los. Há mais de 6 anos, ele mantém essa empresa com ajuda da família. Entrei em contato perguntando se havia autorização do governo brasileiro, já que, no Brasil, fóssil é patrimônio da União. Até agora, a resposta não retornou.
A realização do sonho de Merv acaba causando prejuízo a quem realmente estuda a Paleontologia, como os mestrandos Elis Maria Santana e Gustavo Gomes Pinho. Eles reclamam da dificuldade que é o acesso a coleções que estão em outros país.
"E ainda há o prejuízo social, já que a comunidade daqui não consegue ter acesso aos fósseis", afirmam Gustavo.
Como foram parar lá?
Esta coluna já tratou desse assunto mais de uma vez. Um dos casos emblemáticos é o Ubirajara jubatus, que foi para a Alemanha e provocou uma campanha de pedidos de devolução. Acompanhamos também a repatriação de fósseis que estavam na França. É material que vai e, quando volta, nem sempre retorna à origem.
Quem estuda a paleontologia do Cariri afirma que um dos caminhos são autorizações que foram dadas pelo antigo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), permissões para a retirada de fósseis que seriam usados para estudo, porém a finalidade foi desviada.
Procurei a atual Agência Nacional de Mineração, que substituiu o antigo DNPM, mas sigo sem resposta até agora. Procurada, a Polícia Federal informou apenas que não comenta investigação.
Enquanto isso, os insetos da América do Sul compõem o maior número de exemplares à venda na prateleira virtual da Indiana9 Fossils & Prehistoric Fossils. Supera de longe a Austrália e é infinitamente maior que a China, com apenas 2 sendo vendidos. Trata-se de indício ou prova da falta de fiscalização pelo que é público? O que você, brasileiro tão lesado quanto eu, acha disso?