A identificação com o que consumimos, independentemente da vertente, pode nos trazer sensações distintas. Pode fazer rir, chorar, calar, divertir. Sabendo disso, não é de hoje que o cinema bebe dessa fonte, nos fazendo questionar até onde o gostar e não gostar de uma produção vem, na verdade, de dentro de nós. Com a comédia, claro, não é diferente, e essa é justamente a premissa de 'O Porteiro', comédia brasileira em cartaz nos cinemas atualmente.
O filme, que estreou na última quinta-feira (31), é baseado na peça homônima de Alexandre Lino, sucesso do teatro. A repercussão, inclusive, permitiu a adaptação da história do porteiro Waldisney, um homem divertido e amoroso, às telonas, com o intuito de trazer uma comédia nacional de identificação.
Quem nos contou isso foi o próprio ator, protagonista do filme, da peça e também diretor da versão teatral. "Todo material dramatúrgico da peça foi construído de histórias reais", já adiantou durante a entrevista a esta coluna, garantindo que aí mora o trunfo da história, o que a fez, de fato, ter um êxito expressivo nos palcos brasileiros.
"Nós ouvimos muitos porteiros, migrantes nordestinos, assim como eu, todos contando suas histórias com muita superação, muito humor. Elas foram muito consistentes para criar essa trama em que eles se sentissem identificados, assim como eu também me sinto. Quando esse material vai para o cinema, claro, ele é modificado, mas a consistência está ali, ele é preservado, a essência do homem nordestino está ali", diz ele sobre o filme.
Segundo a sinopse, o filme parte do momento em que Waldisney (Alexandre Lino), porteiro de um prédio, precisa lidar com as confusões do local em que trabalha. De um lado, as fofocas e desentendimentos entre os vizinhos, do outro a parceria com a zeladora Rosival (Cacau Protásio), tudo enquanto tenta manter a bagunça no local. A mudança ocorre quando o condomínio é assaltado e Waldisney precisa provar para o delegado (Maurício Mafrini) que não é o culpado no caso.
"O Waldisney é o típico brasileiro, uma pessoa de valores, de caráter, sensível, de boa índole. É preocupado com o outro, ele carrega características exemplo para os dias que vivemos, dias tão tortuosos, de narcisismo, de individualismo, de separação", explica Lino. Talvez esse seja exatamente o ponto correto do longa, que não apenas envereda pela comédia, mas torna o personagem do porteiro em uma figura fácil de se conectar e de torcer.
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O ator, inclusive, acredita que para além do personagem carismático, Waldisney carrega a trama de forma leve, trazendo a identificação para quem se enxerga nele ou até para quem enxerga o outro nesse homem de humor inocente. "A peça no teatro foi um sucesso no quesito de identificação e isso é muito bonito, que é quando o público se reconhece. Nós gostamos disso, nós gostamos de ouvir histórias e quando essas histórias nos levam a um certo lugar de intimidade isso fortalece ainda mais esse laço. Esses ingredientes estão na peça junto com o público, que participa ativamente na peça, e agora se mostram no nosso filme também", diz.
Junto dele, Aline Campos, Suely Franco, Rosane Gofman, Cacau Protásio e o lutador José Aldo também aparecem no filme completamente encaixados na narrativa, garantindo boas risadas em meio às reviravoltas de uma trama inicialmente simples, mas com ramificações bem costuradas.
Para Lino, a comédia tem disso mesmo: é capaz de nos trazer algo que há muito gostaríamos de ter nos nossos dias. "Nós temos por característica o bom humor, a alegria, tanto o brasileiro no geral como especialmente o povo nordestino. Talvez por isso, quanto à opção do público, para o gênero que mais se aproxima dele, está a comédia, está o humor. O homem já definiu desde sempre, principalmente no cinema. A comédia tem sempre esse lugar de privilégio no sentido de contato com o público", opina.
Se a intenção é se divertir, 'O Porteiro' não falha mesmo e, de quebra, ainda celebra o talento de atores importantes da comédia nacional mostrando como uma história pode ganhar várias mídias com a mesma qualidade original.