Quando a gente é mãe, uma aula não é só uma aula

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Eu já falei uma vez sobre o desejo de tocar piano. Me sinto meio passada do tempo pra esses aprendizados, confesso. Motivo? Nenhum. Não me sinto velha pra começar, apenas deixei levar e  tô mais pra esperar a Manuela chegar na idade de tocar do que de aprender do zero. Apesar de tudo isso, lutei contra todo esse besteirol interno e fui.

Primeira aula. Melhor do que eu imaginava. Não minha desenvoltura, essa era mais ou menos o que eu achava, não fui achando que ia sair tocando Hebert Viana mas significou demais pra mim. É porque quando a gente é mãe, uma aula não é só uma aula.

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Uma aula é só uma simples aula quando a gente é adolescente e toda a energia do mundo está sendo sugada pela aula de matemática ou pela matéria de direito romano.

Mas, quando a gente é mãe, uma aula não é só uma aula. Uma aula é superar suas próprias barreiras que são impostas pelo cansaço, uma aula é pagar algo pra você e não só o judô, a natação e o ballet dos filhos quando soa até egoísta os filhos praticarem 10 atividades e você investir em uma pra você quando ele poderia estar fazendo a 11ª. 

Uma aula é abrir um baú repleto de fraldas, remédios, ligações pro médico, palpites, brinquedos e pegar lá embaixo as suas vontades antes de toda a atmosfera maternal encher aqueles espaços.

É verdade que a maternidade enche os espaços que eram só de desejos e transforma esse espaço em um lugar único mas ele coexiste com aquela pessoa de antes. Não morremos para nos tornarmos mães, apenas abrimos um lugar sem deixar de ter o nosso. Fazer uma aula é abrir esse espaço. É limpar esse lugar seu. Fazer aula quando se é mãe é assumir que assim como nossos filhos, também precisamos gastar tempo com nosso desenvolvimento, com pessoas, com novas experiencias.

Uma aula quando somos mães, é sair do esconderijo, é um elixir da juventude. Funciona melhor que botox. Rejuvenesce. Uma aula, quando somos mães é lembrar que somos mães mas também mulheres. É abrir espaço pra viver os sonhos junto com os do filho, é continuar sonhando enquanto eles crescem, é continuar vivendo enquanto eles vivem.

Quem se importa com a partitura da música do Hebert Viana se a canção que toquei hoje soou tão alto aqui dentro?

 

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora