A sabedoria da sala de espera

Foto: Celiafoto/ Shutterstock

Cinco idosos. De aparentemente uns 80 anos. Era o número de pessoas na sala do pré-cirúrgico. 

Eu tinha que fazer uma mini cirurgia pra tirar uns cilios que crescem fora do lugar e machucam meu olho. É um problema que dá geralmente em idoso. O problema deles era catarata, em sua maioria, mas todos aparentemente bem e sem celular. Sem qualquer sinal dele ou da sua falta.

Eles olham um pro outro e conversam sobre o problema de visão, sobre um primo que viajou e agora mora longe. Olham pra porta do centro cirúrgico pra saber se serão os próximos, cochilam, batem os dedos lentamente na poltrona. “Qual é a sua médica?”, uma me perguntou. 

Aparentemente, não precisam de nada para que o tempo passe. Diferente de tantos de nós, eles me parecem mais capazes, apesar da idade, nesse momento. 

Capazes de olhar mais, esperar mais. O olhar mais lento aparenta ser mais da falta da pressa do que da idade. 

Definitivamente não precisam postar. Precisam apenas esperar. Esperas que já devem tanto ter vivido, próprias da vida. Espera do filho nascer, do tratamento de uma doença, de reencontros, da superação da morte de alguém querido, da hora da cirurgia. 

A espera que faz parte da vida e hoje me pareceu menos custosa e amarga pras pessoas que estão há bem mais tempo vivendo nessa vida. Algum sentido deve ter. 

Larguei um pouco o celular nesse parágrafo pra tentar achá-lo. 

Papai tem falado desse sentido. Do mundo acontecendo enquanto há a espera. O não fazer nada, apenas viver a realidade. Ele fala muito sobre isso. 

Senta aqui no sofá da sala e fica vendo as coisas acontecerem com netos, pega um livro, escreve um bilhete de algo que tem que fazer. Na verdade, faz tempo que ele fala sobre essas coisas, talvez eu tenha começado a prestar atenção agora na espera que passei todo tempo escrevendo porque pareceu longa demais. 

Pra outros, que nem celular tinham, com certeza, a espera foi bem mais curta. 

De todos, hoje, eu era a mais nova, a que mais sabe usar iphone e seguramente a mais incapaz. De esperar, de pensar, de olhar pra fora. 

Ah, as gerações passadas. Nós com tanto conhecimento mas eles com aquilo que mais almejamos: a sabedoria. 

Tô finalmente começando a entender, pai.

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora