O que nos comove depois que deixamos de ser jovens?

Legenda: A vida adulta é complicada, mas traz valores diferentes

Um choro completamente sentido. Meu Deus, era o fim. Qual sentido da vida se a minha vida parecia estar resumida àquele ser humano? O choro mais sentido era do término. Todo namoro na casa dos 20 anos era a mesma coisa e às vezes até por menos: uma paixão não correspondida, um amor platônico que resolveu amar outra pessoa – agora mesmo que não me amaria. Ó céus.

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E aí a gente cresce. Chora, a gente chora ainda por um término, chora pelo coração partido. Talvez por menos tempo, talvez com uma taça de vinho do lado, tendo que trabalhar e engolir o choro. Mas ele, aquele choro do passado, o aperto no coração, o choro descompassado, impulsivo, vem por motivos diferentes. Vem pela mãe que tá envelhecendo e chora cada vez que a deixo, vem de saudade dela quando estou doente, vem do filho que machuca, vem do cachorrinho que nos acompanhou a vida inteira partindo, vem do pai que agora treme um pouquinho a mão.

A vida adulta é complicada mas traz valores diferentes. Mais amplos. Um verdadeiro sentir. Grande, forte, motivado. Tudo parece ter mais sentido. Não que seja mais intenso quanto a juventude. Mas vamos aprendendo a dar o peso certo pras coisas. Somos mais donos dos nossos sentimentos.

A gente entende mais o valor imensurável da nossa mãe, entende o que significa a partida, a chegada, a decisão, passa a ser mais comum ver pessoas partindo. Não mais só as que nos contaram.

Talvez seja porque vivemos consequências de escolhas – mesmo das que não queríamos tomar - e não de emoções ou do acaso e por isso a dor é mais sentida, é mais “de verdade”. Assim como as alegrias.

“Você vem no Natal ou Ano Novo? Me sinto sozinha”. Me doeu mais, muito mais que o último término que tive na casa dos 26 (e olha que achava que era o cara da minha vida). Deve ser por isso que conhecemos tão mais dos sentimentos quando envelhecemos - pra ouvir isso e dizer: “venho no Natal, mãe. Faltam poucos dias. Viva o hoje enquanto eu chego. Eu te amo”.

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora