Como a saúde do intestino afeta a pele? Veja alimentos que são indicados e quais devem ser evitados

Alergias, acne, dermatites podem ser causadas por uma inflamação do intestino e má absorção de nutrientes

Legenda: Relação entre a pele e o intestino é mais direta do que se imagina
Foto: Shutterstock

Quem nunca ouviu que você é o que você come? A alimentação balanceada é essencial, não só para o bom funcionamento do organismo, mas é quase obrigatoriedade para quem quer ter uma pele mais bonita e saudável. O tratamento da acne, por exemplo, tem como um dos pilares evitar os ultraprocessados e alimentos muito gordurosos. 

Mas a realidade é que a saúde da pele está muito mais interligada com a do intestino do que se imagina. Os dois órgãos se originam do mesmo tecido embriológico: o ectoderma, conforme explica a fisioterapeuta integrativa, mestra em Saúde Pública e doutora em Educação, Lígia Erbereli.  

“O embrião humano é formado por três folhetos: ectoderma, endoderma e mesoderma. O ectoderma dá origem à pele, intestino e sistema nervoso. Quando essas estruturas estão completamente formadas, elas mantêm estreita relação funcional. Isso significa que o que afeta uma repercute nas outras”.  

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Além disso, o intestino também possui um sistema linfoide que se comunica com todos os órgãos do corpo. Como ele é o grande responsável pela depuração do corpo, eliminando os dejetos, se esses se acumulam lá dentro, o organismo pode usar a pele como meio secundário de retirar isso. 

Assim, são vários os problemas de pele que podem aparecer quando o intestino não está saudável, tais como eczemas, rosáceas, furúnculos, caspa, dermatite seborreica, psoríase. Dermatite herpertiforme, molusco, foliculite, acne, melasma, fungos como o conhecido como “pano branco”, alergias de contato. 

Como a alimentação interfere na pele?​  

A nutricionista especialista em Saúde Digestiva, Érika Paula Farias, explica ainda que o intestino é uma das maiores barreiras de proteção do nosso corpo e o que comemos e bebemos, além dos medicamentos que usamos, passa pelo órgão que vai agir, junto com o restante do sistema digestivo, para digerir esses alimentos e enviar para o sangue.  

“Nosso intestino é o responsável por nutrir e levar tudo o que a nossa pele precisa. Um intestino em mau funcionamento vai deixar de absorver vitaminas e minerais e, por conta disso, nossa pele vai deixar de receber”, detalha.  

Outro impacto da inflamação do intestino é a alteração da composição da microbiota, formada pelas bactérias comensais, que se alimentam do que não comemos (fibras, principalmente) e, em troca, produzem metabólitos que nos ajudam a funcionar bem e até vitaminas. Dessa forma, com o aumento das bactérias danosas, há uma disbiose.  

“Esses micro-organismos ruins produzem metabólitos que atrapalham o nosso bom funcionamento, como a produção aumentada de p-cresol, um desses metabólitos, no sangue estão associados a problemas de hidratação e queratinização da pele”. 
Érika de Paula Farias
nutricionista

De acordo com Érika, essa disfunção causa uma hiper permeabilidade na barreira do intestino ou a degradação dos dígitos das células do órgão e estudos mostram que isso conferia uma maior chance de desenvolver acne, eczemas e até psoríase, uma doença autoimune.  

Dermatite e intestino  

Bastante comum não só em crianças, a dermatite é uma irritação na pele que, na maior parte das vezes, têm origem alimentar. Lígia pontua que alguns alimentos agridem o epitélio que reveste o intestino, causando uma espécie de microfuros. “Esses furos deixam passar moléculas grandes de alimentos para a corrente sanguínea, que, num intestino íntegro, não passariam”.  

É exatamente isso que caracteriza a hiper permeabilidade, causando um processo de acionamento do alarme de invasores pelas células de defesa e comecem a liberar substâncias inflamatórias como a histamina.  

“Quando se faz uma mudança de hábitos alimentares e tratamento voltado à regeneração do epitélio intestinal, as dermatites tendem a melhorar e até mesmo se reverterem completamente”.  
Lígia Erbereli
fisioterapeuta integrativa

Algumas doenças inflamatórias, conforme Érika, também podem estar relacionadas a isso, tais como doença de Crohn, celíaca e a sensibilidade não celíaca ao glúten. “Por exemplo, tenho sensibilidade quando eu como o glúten e meu corpo reage mal, nem sempre com as mesmas formas de sintomas de uma alergia comum, pode ser rosácea, pequenos pruridos na pele, pápulas, pústulas”.  

Alimentos que devem ser evitados

Dessa forma, é preciso ficar atento ao que é consumido, mas as restrições precisam ser realizadas por meio de acompanhamento profissional e caso haja surgimento de sintomas. De maneira geral, Lígia explica que, quanto mais processado for o alimento, mais danoso ele é, então a dica é ler o rótulo. “Se tiver nomes estranhos que você nem sabe o que é, alerta”.  

“Importante também falar dos agrotóxicos e transgênicos, potenciais agressores do epitélio intestinal e da microbiota. Alguns alimentos como leite e derivados e trigo/glúten são apontados como tendo ligação constante a processos inflamatórios, alergias e sensibilidades alimentares”, detalha.  

Érika ainda pontua a necessidade de um diagnóstico para que seja feita uma avaliação desses alimentos. “Eu trabalho com um protocolo em que a gente exclui todos os possíveis alérgenos, depois, trata o intestino, a a gente vem reintroduzindo para observar quais são os grupos que podem estar causando essa alergia”. 

Para a população geral, além dos ultraprocessados, a nutricionista recomenda evitar, açúcares, doces consumidos de forma excessiva, gordura saturada como a gordura de origem animal também em excesso.  

Alimentos que fazem bem para a pele

Já com relação ao que comer, a nutricionista indica, para a população saudável, sem diagnóstico de doença inflamatória intestinal: frutas, pelo menos três porções por dia. “É comum substituirmos frutas por pães, biscoitos e bolos, mas as frutas além das fibras, vitaminas e minerais possuem composto bioativos e antioxidantes que ajudam o nosso corpo a funcionar melhor”. 

  • Gorduras antioxidantes: salmão, sardinha, atum, linhaça, óleo de linhaça, abacate, nozes, castanhas, amêndoas, etc 
  • Vegetais e folhosos: buscar variedade e não só a alface com tomate. Os vegetais verdes-escuros são muito ricos em nutrientes e já os mais coloridos, alaranjados, vermelhos vão ter muitos antioxidantes. 
  • Leguminosas: feijão, lentilha, ervilha, grão de bico, amendoim. 
  • Cereais integrais, raízes e tubérculos: quinoa, milho, aveia, batatas, macaxeira.