Sem preconceitos e carregada de influências musicais, Vanessa da Mata abraçou dois nomes em alta nas plataformas musicais em "Vem Doce" — sétimo álbum de inéditas da cantora. Do piseiro, a artista se uniu ao derivado do forró em feat com João Gomes. Olhando para o trap, ele se entregou à métrica rápida do gênero musical em parceria com L7nnon.
Em entrevista exclusiva à coluna, Vanessa da Mata falou da importância de agregar diferentes sons ao repertório e o respeito ao trabalho de novos cantores.
Assista à entrevista:
"As pessoas estão curtindo. É uma maneira também de trazer os filhos e cantar Belchior com os meninos de 20 anos. Você acaba com vários preconceitos, né? Essa confluência de estilos musicais sempre tive. Sempre cantei música do romântico brega - horrível chamar assim. Até com Maria Betânia e Gal era isso. A música tem várias vertentes, sempre teve. Desde o 'Iê-Iê-Iê', a década do rock, era o mais popular. E isso vai aumentando".
Papatinho (Vem Doce), Jaques Morelenbaum (Foice) também são participações especiais do novo repertório de Vanessa da Mata
No bate-papo, a cantora exaltou ainda a força cultural que o piseiro carrega e como abriu portas para o entendimento ao resto do País, na atualidade, sobre assuntos ligados as vaquejadas, por exemplo.
"Essa coisa do piseiro, eu acho interessante. No piseiro você tem muitas vertentes musicais ali inseridas. A própria maneira do cara cantar, esse aboio, a vaquejada. Na vaquejada você tem toda uma bagagem cultural nordestina fortíssima que, até pouco tempo atrás, não tava inserida dentro da Música Brasileira. Estava só o sertanejo, os mais fortes", explicou a artista.
A variedade musical é muito importante e rica. É o reflexo do Brasil. Quando fica uma só, aí é uma dominância do mercado extremamente voltada ao monetário, né? Pra grana, grana, grana. É muito chato e estéril, pobre
Herança afetiva com o Nordeste
Neta de baiana rezadeira, Vanessa da Mata contou que a paixão pela cultura nordestina é algo que vem de berço.
"O Nordeste sempre foi extremamente dentro da minha vida. A minha avó, que é a figura mais importante da minha carreira, da minha juventude, da minha construção como ser humano, era uma senhora que cantava muito dentro de casa, e tinha um estilo musical também das lavadeiras nordestinas, na cultura afro brasileira. Ela comemorava a vida dançando e cantando o tempo todo", explicou a artista.
Mulheres compositoras
Vanessa da Mata diz ainda sentir falta de músicas feitas inteiramente por mulheres.
"A gente vê poucas compositoras que fazem músicas e letras inteiras. Geralmente, você ainda observa mulheres que se juntam com homens. Ou é difícil você ver várias mulheres fazendo música. Ao mesmo tempo [tem] essa coisa da personalidade da composição. Ela fica muito pulverizada quando se junta mais compositores", pontuou Vanessa Mata.
Segundo a artista, o mercado fez ela buscar ser "autossuficiente". "Esse disco, por exemplo, é mais um completamente autoral e tenho poucas parcerias. Quero cada vez mais ser autossuficiente. Isso nasceu de uma necessidade de expressão. De falar de um feminino não frágil e de também abordar as fragilidades dele. Ligar esse f* e ter liberdade de falar o que quisesse. Eu acho que a gente vai ter muito mais compositoras para aparecer".