Como Iguinho e Lulinha mantêm a voz em mais de 50 shows no São João? Fonoaudiólogo da dupla explica

Profissional revelou segredos sobre alimentação e técnicas utilizadas com forrozeiros

Escrito por
João Lima Neto joao.lima@svm.com.br
Legenda: Vinícius Araújo em viagem ao lado da dupla Iguinho e Lulinha
Foto: Arquivo Pessoal

Donos da maior agenda de São João de 2025, a dupla Iguinho e Lulinha percorre o Brasil acompanhado de um fonoaudiólogo. Vinícius Araújo, bacharel em fonoaudiologia pela Universidade da Amazônia (Unama) e especialista em análise acústica vocal, acompanha os forrozeiros desde o início de junho

Em entrevista exclusiva à coluna, o profissional revelou técnicas, equipamentos utilizados e até as proibições na alimentação dos artistas para manter a voz nos shows.

Iguinho e Lulinha em exercício para manter a voz
Legenda: Iguinho e Lulinha em exercício para manter a voz
Foto: Arquivo Pessoal

'Vini Fono', assim conhecido no mercado musical, também comentou que atua — quando necessário — na forma como os artistas dividem o repertório.

Coluna: Como manter a voz de dois artistas por mais de 50 shows?

Vinícius Araújo: Já é o nosso terceiro ano consecutivo com a maior agenda de shows do São João, graças a Deus tenho trabalhado com eles um protocolo na qual eu criei, que requer cuidado não só da voz, mas da alimentação, da saúde integral em geral. A gente precisa entender que voz é alma, corpo e mente.

Alguns dos procedimentos que eu realizo durante nossa turnê é a laserterapia, taping, suplementação de ingesta líquida para reposição de sair minerais, eletroterapia, termoterapia, terapia de frequência vibracional, além de exercícios personalizados para cada um deles. Lembrando que por ser uma dupla não quer dizer que são os mesmos exercícios, pelo contrário. Cada um tem seu plano de exercício específico, porque são vozes com características diferentes. 

Coluna: O que você proíbe eles de fazerem durante esse período de São João? (Algo que elas tenham o costume de fazer)

Vinícius Araújo: Tomar café, comer chocolate, bebida alcoólica, comer e ingerir alimentos muito pesados, falar demais. Eu poupo muito eles de tudo, às vezes sou chato mesmo, mas precisamos concluir com êxito e saúde vocal. Até porque eles são exemplos hoje no forró e no São João. 

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Coluna: Você atua também na disposição do repertório? Digo, cada cantor possuí uma duração de quanto tempo pode cantar e assim eles vão intercalando? Ou não tem interferência sua?

Vinícius Araújo: Quando necessário, a gente reorganiza as questões de tons altos, tons baixos. Existe um momento na metade do show de um bloco para o outro que eu oferto soro fisiológico no algodão de disco para repor a hidratação vocal. É sempre um trabalho em conjunto, é primordial termos uma equipe que sabe escutar e trabalhar junto, e não tenho problema algum em relação isso. 

Coluna: A alimentação também influencia na voz? O que eles comem na viagem?

Vinícius Araújo: Demais! Eles amam cuscuz, é algo indispensável, eles são fãs, porque existe uma relação estreita deles na criação em roça, então eles são bem raiz. Mas muito coisa eu já consegui intervir e hoje eles já entendem a importância de comer e de não comer certos alimentos. 

Coluna: Em termos de noites de frio e de calor fora e em cima dos palcos, como impacta na voz?

Vinícius Araújo: Impacta em tudo, em toda performance vocal. É algo que eu pego muito no pé deles, inclusive existem algumas cidades da Bahia que são muito frias e que fazemos sempre show todos os anos. Eu sempre coloco agasalho neles ou peço para os assessores colocarem, coloco uma toalha com óleo essencial sobre o pescoço durante a viagem e ao chegar no camarim. Solicito para eles sempre usarem máscaras, usar meia e coberta Em algumas situações eu oferto chá quente de hortelã para mante-los aquecidos. O pós-show é tão importante quanto o pré-show. O meu trabalho não se limita só pré-show, pelo contrário é 24h eu intervindo ali. 

Coluna: Como você avalia a participação de fonoaudiólogo atualmente no forró?

Vinícius Araújo: Eu fico muito feliz, porque no cenário atual que estamos vivendo, vejo muitos cantores já se cuidando, buscando e levando os fonoaudiólogos para estrada. Eu participei ativamente dessa valorização e participo todos os dias. Confesso para você que existe um mercado antes do 'Vini Fono' e depois do 'Vini Fono'. Eu hoje sirvo de referência para muitos jovens que estão na faculdade e profissionais já formados. Por eu ter essa visibilidade a responsabilidade é primordial, fico muito grato. A minha demanda aumentou tanto que criei uma equipe de fonoaudiólogos só para rodar com os artistas.

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