Ciro Gomes volta a Sobral na reta final da campanha, em cenário decisivo para sua biografia política

Poucos dias atrás, o pedetista chegou a dizer que não voltaria ao Ceará por se sentir vítima de uma "traição"

Legenda: Ciro Gomes em carreata para comemorar vitória eleitoral no Ceará em 1990
Foto: Cid Barbosa

"Traição é a cara desse momento no Ceará. Resolvi não ir no meu Estado, pela primeira vez na vida", disse o candidato a presidente Ciro Gomes (PDT), há uma semana, antes de mudar de ideia e marcar para esta sexta-feira (30) uma carreata nas ruas de Sobral, berço político da sua família. 

O presidenciável deve desembarcar no Estado, no entanto, em um cenário jamais imaginado para sua trajetória política até então, que começou ainda nos anos 1980 e, com exceção das três derrotas para presidente da República, soma resultados vitoriosos em disputas pelo Governo do Estado, pela Prefeitura de Sobral e pela hegemonia em outras prefeituras e casas legislativas. 

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Em 2022, Ciro viu o grupo político não resistir a um impasse com uma nova liderança, o ex-governador Camilo Santana (PT), agora candidato ao Senado. O racha entre PT e PDT, motivado pela escolha de lançar ao Governo o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT) em detrimento da governadora Izolda Cela (sem partido), afastou partidos, deputados e outros aliados do grupo pedetista e atingiu até mesmo a harmonia dos irmãos Ferreira Gomes na política.

"Eu nunca imaginei, mas nós somos muito profundamente diferentes, nunca imaginei que tanto. Eu paro aqui porque dói muito no meu coração. Eu nunca imaginei que a diferença fosse tão profunda", disse Ciro, na mesma entrevista em que disse não vir ao Ceará, ao site O Antagonista, ao ser questionado sobre a semelhança dele e dos irmãos em fazer política.

Mesmo que sem citar nomes, Ciro se referia ao senador e ex-governador Cid Gomes (PDT) e ao prefeito de Sobral, Ivo Gomes. Além deles, há a irmã Lia Gomes, candidata a deputada estadual, e o irmão Lúcio Gomes, secretário da Infraestrutura do Governo Izolda.

Nos meses do auge do conflito entre os aliados de Camilo Santana e Ciro, Cid desapareceu do cenário e não cumpriu agendas públicas até setembro, quando ressurgiu em Sobral colando adesivos em carros pró-Ciro. Ivo tem mobilizado eventos pontuais na cidade também, mas protagonizou críticas ácidas ao irmão mais velho e a Roberto Cláudio, colocando sobre eles a responsabilidade da crise.

Isolamento local

Na única agenda que cumpriu no Ceará nesta campanha, em agosto, para inaugurar comitê dele e de Roberto Cláudio em Fortaleza, Ciro participou de eventos sem os irmãos e sem outrora aliados de peso, como deputados federais e estaduais que se aglomeravam em palanques apertados para sair na foto ao lado de Ciro. O presidenciável contou com a presença de poucos nomes de força estadual e muitos vereadores da Capital, puxados também pela liderança do ex-prefeito.

Ciro Gomes e aliados na convenção de 2010, quando Cid Gomes foi candidato à reeleição
Legenda: Ciro Gomes e aliados na convenção de 2010, quando Cid Gomes foi candidato à reeleição
Foto: Kiko Silva

O racha do grupo governista, com poucos seguindo as orientações de Ciro, mostrou a vulnerabilidade das relações políticas. Um levantamento feito por esta coluna nos últimos dias mostra que poucos são os deputados federais e estaduais que têm defendido o nome de Ciro em suas campanhas de reeleição nas redes sociais e em agendas no Interior. 

Não à toa as pesquisas de intenção de voto mostram Ciro ocupando a terceira posição, atrás de Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), no Estado em que sempre lhe rendeu vitórias. Pela primeira vez, Ciro não conta com uma ampla rede de busca por votos que envolve deputados, prefeitos, vereadores e outras lideranças locais. 

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O irmão Cid Gomes é um dos grandes maestros dessa rede, mas tem optado por manter distância pública das tratativas. Dentre as poucas ocasiões em que saiu às ruas nesta campanha, uma delas foi ao lado de Camilo Santana, acompanhado também de Ivo Gomes, em Sobral, para pedir voto ao petista. 

"A traição é uma amargura pra mim, gente que dei a vida inteira ou uma comunidade a quem me entreguei a vida inteira valorizar a traição do jeito que está acontecendo no Ceará, sabe? Chega pra mim", disse Ciro na entrevista já citada.

É assim que ele tem sinalizado ver a relação dos irmãos com o ex-governador petista, cujo candidato o governo tem liderado pesquisas de intenção de voto.

Pressão de adversários

A visita de Ciro ao Ceará, no penúltimo dia de campanha, além do simbolismo da presença do pedestista diante do cenário de conflito com a família e do fraco desempenho nas pesquisas de intenção de voto, coincide também com a agenda de outro presidenciável no Estado.

Em Fortaleza, a pouco mais de 200 quilômetros de Sobral, o candidato do PT a presidente, Lula, cumprirá agenda com o candidato ao Governo do partido, Elmano de Freitas, e Camilo Santana.

Ciro Gomes, com os irmãos Cid e Ivo Gomes e o ex-governador Camilo Santana
Legenda: Ciro Gomes, com os irmãos Cid e Ivo Gomes e o ex-governador Camilo Santana
Foto: Natinho Rodrigues

Mas a pressão, no entanto, não se restringe ao Estado. Também em Sobral, e no mesmo horário, o candidato ao Governo Capitão Wagner (União Brasil) fará também uma carreata ao lado da família que rivaliza a política local com os Ferreira Gomes, o deputado federal Moses Rodrigues e o pai dele, o empresário Oscar Rodrigues, candidato a deputado estadual.

A 'coincidência' de agendas em um importante colégio eleitoral antecipa a pressão da abertura das urnas e do desempenho de forças políticas opostas. 

Há muito em jogo no anúncio de vinda ao Ceará, de última hora, de Ciro. Os movimentos do pedetista e de seus irmãos nesses próximos dias serão balisas para o redesenho político no Ceará, independentemente de quem vença a disputa pelo Governo do Estado. Como muitos políticos, Ciro gosta de ressaltar seus feitos no Ceará. Agora a questão é saber o que vai ser escrito deste 2022 para frente.

"Que o cearense diga lá o que quer fazer de mim": palavras do próprio Ciro na mesma entrevista que abre essa coluna. No domingo, saberemos, então, qual a resposta.  

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