A digitalização e mais recentemente a chegada da Inteligência Artificial (IA) acirrou a corrida de grandes companhias para oferecer conectividade com rapidez, o que inclui a instalação de data centers em localizações estratégicas. Uma dessas localizações é o Ceará, por pelo menos três motivos: posição geográfica próxima à Europa, África e Estados Unidos, vocação para a geração de energia renovável e até a neutralidade geopolítica do Brasil.
A avaliação é do presidente da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TelComp), Luiz Henrique Barbosa, que não só afirma que o Ceará é atrativo para essas empresas como também explica que algumas big techs já possuem investimentos em data centers de terceiros no Ceará. “O mercado é pujante, muitos negócios possuem data centers próprios e alguns têm data centers de terceiros em diversos países”, detalha.
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“O Ceará tem o hub de cabos submarinos chegando a Fortaleza, que tem uma proximidade importância pela questão da latência. É uma posição privilegiada do ponto de vista geográfico”, reforça Barbosa.
Diante dos atrativos e da eferverscência desse mercado, é possível imaginar que a Microsoft possa considerar o Ceará como um dos destinos para receber o aporte de R$ 14,7 bilhões anunciado pela gigante de tecnologia na semana passada. O investimento será realizado ao longo de três anos.
Outro elemento que fortalece essa possibilidade é o interesse do bilionário cearense Mário Araripe, CEO da Casa dos Ventos, em construir um data center no Complexo Industrial e Portuário do Pecém para atrair big techs como Amazon, Google, Meta e Microsoft.
“O data center vai ser no Pecém porque tem uma ZPE. Minha ideia é viabilizar a vinda da Microsoft, ou Google, ou da Amazon. A gente faz o armazém grande, que vai ser de 12 campos de futebol. Aí elas vêm e enchem de computador”, disse Araripe em entrevista ao Diário do Nordeste em notícia publicada em maio deste ano.
O interesse do empresário se sustenta na grande necessidade que esses data centers têm de energia. Como o Ceará é um grande produtor de energia limpa, o Estado acaba se sobressaindo em ante outras localidades. “Quero fazer isso porque quero gerar demanda por energia. O Ceará tem muita capacidade de gerar energia, somos o maior desenvolvedor do mundo”, disse Araripe na ocasião.
A coluna procurou a Microsoft para saber se o Ceará está contemplado nesses investimentos. A companhia respondeu que “a Microsoft não divulga externamente a localização dos data centers”.
Em nota, a Casa dos Ventos informou que "é uma parceira em soluções energéticas sustentáveis e tem advogado no país para viabilizar a construção de data centers para empresas de colocation e também para os grandes consumidores". "A empresa também "avalia que o Brasil tem grande potencial para ofertar energia renovável para essa indústria".
O Governo do Ceará também foi procurado sobre a possibilidade de haver alguma conversa com a Microsoft sobre investimentos no Estado, mas também não houve retorno.
O presidente da TelComp explica que o mercado de data centers cresce em ritmo acelerado na esteira da transformação digital. “A transformação digital se faz em cima de computadores de data centers. Esse mercado cresceu a taxas de mais de dois dígitos anuais e se vislumbra que ele continuará crescendo a dois dígitos pelos próximos anos. Há diversos projetos na casa de dezenas de bilhões de dólares para a construção de data centers”, pontua.
E, nesse contexto, a energia renovável é mais do que relevante. “Acreditamos que em um intervalo de cinco a dez anos os data centers serão responsáveis por ¼ das energias do mundo”, diz Barbosa.
“A matriz energética de alguns países é poluidora. O Brasil tem uma matriz hídrica grande e, mais recentemente, tem desenvolvido bastante a energia solar fotovoltaica e a eólica, enquanto em outros lugares é necessário queimar carvão ou gás para produzir energia elétrica”, destaca o presidente da TelComp.
Para Luiz Henrique Barbosa, há oportunidades de desenvolvimento do mercado de data centers em outros países, mas o Brasil se destaca no quesito geopolítico por ser uma nação mais “neutra”. “Há um processo de ‘desglobalização’ e a economia de dados é estratégica, então o Brasil pode se colocar como atraente para esses investimentos por ser neutro do ponto de vista geopolítico, um local amigável. E aí quem está mais perto da Europa e dos Estados Unidos? O Ceará”.