Após fechar fábrica e demitir funcionários, M. Dias Branco mira expansão internacional; veja países

Escrito por
Ingrid Coelho ingrid.coelho@svm.com.br
Legenda: A internacionalização pretendida pela M. Dias Branco seria por meio da aquisição de marcas, algo que a empresa já fez no Uruguai com a marca Las Acacias
Foto: Thiago Gadelha

A poucos dias de entrar no chamado período de silêncio — posição adotada pelas empresas de capital aberto antes da divulgação dos resultados trimestrais —, a M. Dias Branco revelou objetivo de avançar no Sul e Sudeste e internacionalizar os negócios por meio da aquisição de marcas em outros países.

Durante um café com a imprensa do Ceará, realizado nesta terça-feira (28) na unidade do Mucuripe, em Fortaleza, Gustavo Theodozio, vice-presidente de Investimentos e Controladoria da M. Dias Branco, falou sobre alguns planos da companhia: crescer no Sul e no Sudeste, ampliando seu market share (participação de mercado) e sem descartar novas aquisições, “se aparecer no meio do caminho uma oportunidade”.

Ele mencionou que, no momento, a via mais “fácil” de crescimento é continuar apostando no mercado brasileiro do que a internacionalização, mas “estão monitorando diariamente o mercado global”.

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“Após uma análise, ficou claro que o maior pote de dinheiro e o mais fácil de pegar é crescendo mais no Brasil, então agora estamos muito mais focados em avançar no Sul e no Sudeste do que eventualmente adquirir novas companhias ou acelerar o processo de internacionalização”, pontua o vice-presidente de Investimentos e Controladoria da M. Dias Branco.

Theodozio justifica que, no Brasil, o grupo M. Dias Branco já possui plantas, marcas (são cerca de 20 no portfólio), escritório e conhecimento de mercado, além de clientes. “O que é preciso agora é expandir. Se aparecer, no meio do caminho, uma oportunidade de adquirir uma companhia que esteja alinhada com essa estratégia, que seja uma companhia grande, em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas ou Paraná, isso vai acelerar esse processo de crescimento”, disse.

O grupo M. Dias Branco possui hoje market share de 32%, uma participação quatro vezes maior do que as concorrentes com segundo e terceiro maiores shares (Marilan, com 8%; e Bauducco, com cerca de 7%).

A companhia tem cerca de um terço do mercado brasileiro. Há espaço para mais uma grande aquisição de massas e mais uma de biscoitos, mas se eu fizer uma segunda aquisição de massas e uma segunda de biscoito, não passa no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) ou passa com remédio"
Gustavo Theodozio
Vice-presidente de Investimentos e Controladoria da M. Dias Branco

"Dado isso, se a gente quiser continuar crescendo, em algum momento a gente vai ter que sair do Brasil e aí a internacionalização é o caminho", diz ainda o porta-voz. O grupo M. Dias Branco exporta para mais de 40 países e atua no modelo white label nos Estados Unidos, produzindo itens para a comercialização por outras marcas.

Um dos continentes para o qual a companhia cearense exporta é a África, onde trabalha com uma margarina especificamente desenvolvida para a localidade. "É uma margarina shelf stable, que não derrete e eu consigo enviar para a África sem contêiner refrigerado. Além disso, a logística dentro da África é complexa, então esse produto consegue transitar mais facilmente lá", explica Theodozio.

A internacionalização pretendida seria por meio da aquisição de marcas, algo que a empresa já fez no Uruguai com a marca Las Acacias, que majoritariamente produz massas. “Nós agora estamos fazendo biscoitos na planta de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, a 700 quilômetros de Montevidéu. Com a Las Acacias, vamos vender biscoitos no Uruguai", diz.

A América do Sul está no radar e a Península Ibérica, na Europa, para aquisições. "O que a gente quer e eu entendo que é mais fácil: América Latina. Nós já começamos a fazer isso no Uruguai, que é aqui do lado. A América Latina inteira tem grandes oportunidades, você tem uma grande no Peru, que chegou a ter uma fábrica aqui no Brasil. Na Colômbia tem a Nutresa, companhia relevante".

"Na Europa, o que a gente acha que faria sentido é a Península Ibérica devido à conexão cultural, idioma. Além disso, fica mais próxima da África e do leste europeu. Então abastecer a África a partir da Península Ibérica é muito mais fácil do que do Brasil".

Para ele, países como Inglaterra, Itália e França, além do mercado norte-americano, Oceania e Ásia, não são interessantes no momento.

Criação de novos produtos

Se a aquisição de negócios no Brasil não é descartada e a de marcas fora do País é um caminho possível, a expansão dentro da própria M. Dias Branco é uma realidade. Theodozio detalha que “tem sido construída basicamente uma nova empresa dentro da M. Dias Branco” a partir da criação de novas linhas.

“Quando nós compramos a Piraquê, ela tinha dois best-sellers: a goiabinha e o biscoito leite maltado, que o carioca chama de ‘vaquinha’. Estamos expandindo, inovando dentro da companhia sem ter que comprar outra companhia. Fizemos o biscoito com chocolate, recheado com doce de leite, com creme de avelã, então a gente tá pegando coisas que são sucesso e expandindo com mais valor agregado. Um biscoito desse (leite maltado) recheado com doce de leite tem uma margem maior do que o original”, exemplifica.

A proposta de agregar valor inclusive tem levado o grupo cearense ao mercado dos salted snacks (salgadinhos usados, por exemplo, como tira-gosto). “Tem um mercado de R$ 20 bilhões que é o de salted snacks, praticamente dominado pela Pepsico. A gente está criando uma vertical de salgados”.

Desligamentos em 2024

Em janeiro deste ano, a M. Dias Branco fechou uma fábrica em São Paulo e o mais recente balanço da companhia, referente ao terceiro trimestre de 2024, mostra quedas de receita e de lucro líquido, além da demissão de 850 trabalhadores. O próximo balanço será divulgado em 21 de fevereiro.

Questionado se o trigo e dólar teriam sido os responsáveis pelo desligamento de mais de 800 trabalhadores reportado no balanço do 3T24, Theodozio afirmou que se trata de "um conjunto de tudo". "A receita caiu porque as commodities voltaram e os preços voltaram. Tivemos uma subida muito grande em 2023 e, em 2024, os preços voltaram. A despesa continua no mesmo patamar, então a margem comprimiu".

"Nós estamos mudando a área comercial, apostando em uma melhor performance de vendas. A gente precisa crescer no Sul e Sudeste, que é nossa principal via de crescimento. E as coisas não estavam crescendo na velocidade que a gente esperava", disse Theodozio. "Eu não quero fechar fábrica, eu quero aumentar fábrica. Agora, só vou aumentar fábrica se aumentar receita", arremata.

 

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