Cerca de um terço dos consumidores cearenses estão com o “nome sujo na praça”, considerando que, de acordo com o Serasa, o Ceará possui 3,1 milhões com dívidas em atraso e que o mais recente número de habitantes no Estado estimado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é de 9,2 milhões.
Desse total, os que tiverem até R$ 5 mil em dívidas atrasadas e renda mensal de até dois salários mínimos terão a oportunidade de “limpar o nome” a partir do “Desenrola”, programa de renegociação de dívidas para pessoas físicas anunciado na última segunda-feira (5) pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
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O vice-presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Ceará (Fecomércio-CE), Cid Alves, destaca que a maior parte dos inadimplentes no Estado possuem dívidas até esse teto. Para ele, o programa é “providencial” para a retomada da economia, uma vez que resgata para o mercado de consumo pessoas com o “nome sujo”.
“É muito importante nessa retomada, principalmente em um momento em que é preciso muito cuidado com a macroeconomia”, diz Alves.
Juntos, esses mais de três milhões de inadimplentes no Ceará possuem 10,7 milhões de dívidas em atraso, totalizando R$ 12,1 bilhões. De acordo com a Serasa, cada devedor possui, em média, R$ 3,8 mil em atraso. Já o tíquete médio por dívida (o valor médio de cada débito) é de R$ 1,1 mil.
A maior parte das dívidas dos cearenses que estão em inadimplência se refere aos bancos ou cartões de crédito (32,8%).
As renegociações serão possíveis a partir da adesão das instituições financeiras ao programa. De acordo com Haddad, as empresas credoras que aceitarem participar do programa deverão perdoar “automaticamente” dívidas de até R$ 100,00. O ministro afirmou que 1,5 milhão de brasileiros se enquadram nessa situação.
O ministro também disse que bancos privados e públicos foram consultados sobre o programa e que a previsão do Governo Federal é que o setor faça parte do "Desenrola".
Em nota, o presidente da Febraban, Isaac Sidney, disse que o desenho do programa está “em linha com as tratativas feitas nos últimos meses em conjunto pelo governo federal e a Febraban”. “Quando entrar em operação, os bancos darão sua contribuição para que o 'Desenrola' reduza o número de consumidores negativados e ajude milhões de cidadãos a diminuírem suas dívidas”, pontuou.
Na faixa 2, a proposta é tirar da inadimplência os consumidores que possuem dívidas com instituições financeiras. Nesse caso, as renegociações serão com os próprios bancos com quem o consumidor contraiu a dívida.
Para que ofereçam a renegociação com descontos na dívida, o Governo Federal dará aos bancos, em troca, um incentivo para aumento da oferta de crédito.
O economista Ricardo Coimbra endossa a importância de um mecanismo que permita aos consumidores a volta ao mercado de consumo. “Potencializa a volta da capacidade de consumo e isso fortalece as economias principalmente dos estados. Assim, as pessoas devem conseguir se reestruturar até o fim do ano, que é quando recebem renda extra, como o décimo terceiro”.
É comum pesquisas revelarem o desejo dos cearenses de utilizar todos os anos o 13º salário para o pagamento de dívidas.
Coimbra destaca, dentro do programa, pontos como parcelamento e a taxa de juros. “Isso revela a potencialidade que o programa tem de fazer com que as pessoas consigam se reorganizar financeiramente, além de contar com um curso de educação financeira”.
Apesar de ressaltar as potencialidades do programa, Ricardo Coimbra acredita que seria interessante que o programa tivesse uma abrangência de dívidas ainda maior, para além dos débitos contraídos com bancos.
Cid Alves também pondera que, apesar de ver a iniciativa com bons olhos, o ideal é que se trate de uma medida de caráter emergencial. "Deve ser algo para resolver pontualmente o problema".