PT aceita aliança com o PDT apesar da dissidência e de Ciro Gomes, mas quer discutir nomes

Parlamentares da sigla, em conversa com esta Coluna, admitem acordo "contra o bolsonarismo"

Legenda: Na última passagem pelo Ceará, Lula se encontrou com o senador Cid Gomes (PDT) e com o governador Camilo Santana. Na ocasião, Lula não fez objeção à aliança
Foto: Ricardo Stuckert

No universo parlamentar petista cearense, que serve de termômetro para medir a temperatura interna do partido, o clima é quase de consenso sobre a manutenção da aliança estadual com o PDT, a despeito de duas realidades: a insatisfação de um pequeno grupo interno que deseja candidatura própria ao governo e os constantes ataques de Ciro Gomes a Lula, no cenário nacional. 

Vereadores de Fortaleza e deputados estaduais ouvidos por esta Coluna são praticamente unânimes em validar a decisão interna tomada pelo partido de aprovar a tendência de aliança com o PDT em nível estadual, apesar do fogo cruzado.  

Há, sem dúvidas, insatisfações com as declarações críticas de Ciro. Isso, entretanto, acaba servindo ao partido como mais um motivo para o PT querer discutir os nomes da chapa majoritária, além da candidatura ao Senado, cuja resolução partidária confirmou a preferência por Camilo Santana.

“Como é que você vai fazer um casamento se o pai da noiva vive chamando o noivo de ladrão? Não Dá! Além disso, a noiva concorda com o pai? É isso que tem que discutir”, diz o deputado estadual Elmano de Freitas (PT), um dos mais críticos às posições de Ciro, mas apoiador do acordo com o PDT. 

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O que ele quer dizer com a metáfora é que o PT aceita a parceria com o PDT, inclusive aceita a cabeça de chapa ser do partido aliado, mas precisa discutir o nome. “Não pode ser um nome que tenha esse pensamento do Ciro (considerar Lula, o maior líder do partido, como ladrão)”, complementa. 

Elmano, por sinal, saiu candidato a prefeito de Caucaia, nas últimas eleições e contou com o apoio de Ciro Gomes que chegou a gravar vídeo em apoio a sua candidatura.

“Na conversa que tive com ele, ele contou do encontro com o Lula, que os dois conversaram, resolveram lá entre si. Depois, voltam os ataques. Ciro tem o direito de discordar, de apresentar uma alternativa, mas os ataques chamando de ladrão não temos como aceitar”.
Elmano de Freitas
Deputado Estadual (PT)
 

Apesar dos pesares, os membros consideram a aliança importante no sentido de confrontar o bolsonarismo no Estado. A vereadora de Fortaleza Larissa Gaspar vai neste sentido. Para ela, juntos, PT e PDT têm mais condição de evitar uma possível vitória dos concorrentes.

Vereadora Larissa Gaspar
Legenda: Larissa Gaspar considera que a presença de um petista na gestão Sarto facilita o diálogo, mas considera haver dificuldade de resolver problemas

“O partido tem que pensar no cenário nacional, posicionar o Lula aqui no Ceara. Contra esse projeto que representa o Bolsonaro, é fundamental abrir o diálogo com o PDT”. 
Larissa Gaspar
Vereadora de Fortaleza (PT)

Guilherme Sampaio, vereador, presidente municipal do PT e membro do Diretório Estadual, pensa em sentido parecido.

Vereador Guilherme Sampaio
Legenda: Guilherme Sampaio considera a aliança com o PDT, mas reforçou que o partido vai se posicionar sempre contra as declarações de Ciro Gomes

“Em 2020, contra o capitão Wagner, o PT não titubeou, apoiou Sarto (PDT) no segundo turno. Agora, mais uma vez, temos que pensar em derrotar o bolsonarismo, por isso temos é importante dialogar com o PDT. Mesmo assim, temos algumas questões a discutir”, reforça. 

Relação entre os partidos na Capital 

Até mesmo em Fortaleza, onde a relação entre os partidos é mais problemática desde o início da gestão Roberto Cláudio, em 2012, a relação está mais amena.  

Principalmente, depois da entrada de Ilário Marques na gestão Sarto, como secretário de Direitos Humanos. Larissa Gaspar reconhece que a presença de um petista na gestão facilita o diálogo. “Sem dúvida facilita, mas nós não consideramos que haja dificuldade de diálogo na gestão Sarto. O que há é dificuldade em resolver os problemas”, reforça. 

“Não titubeamos em apoiar (Sarto) na eleição, mas na gestão, não nos sentimos contemplados. Mesmo assim, evidentemente, não fazemos uma oposição raivosa, mas sim propositiva, de alto nível”, diz Guilherme Sampaio.