O governador Camilo Santana (PT), que está deixando o cargo no próximo sábado (2), disse, em entrevista que o presidente Jair Bolsonaro (PL) “desrespeita” a relação institucional entre o governo federal e os estados. Segundo o governador, principalmente os estados de oposição, como é o caso do Ceará, tiveram dificuldade de liberação de recursos e de articular decisões estratégicas.
Camilo concedeu entrevista na manhã desta quarta-feira (30) ao telejornal Bom Dia Ceará, da TV Verdes Mares, e ao Bom Dia Nordeste, da Rádio Verdes Mares e TV Diário. Ele fez um balanço das ações após sete anos à frente do Executivo e destacou projetos importantes e momentos de dificuldade.
“Nós vivemos numa federação. Existe uma relação federativa entre o governo (federal) e os estados. Essa relação foi desrespeitada neste governo (Bolsonaro). Não há a menor relação federativa entre União e estados. Temos sofrido com o repasse de recursos financeiros, da forma que é tratado”.
Após ser questionado por este colunista, o gestor citou dois casos em que disse ter tido dificuldade de articulação com o governo Bolsonaro. Uma delas foi na época do motim de policiais militares ocorrido no início de 2020.
“Você não sabe a dificuldade que tive na época do motim para conseguir uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem), para trazer o Exército para proteger a população cearense. O pedido era minha responsabilidade. A obrigação era do presidente”, reclamou.
Teleférico do Horto
O outro episódio, mais recente, segundo ele, envolveu o teleférico do horto, em Juazeiro do Norte, inaugurado nesta semana. De acordo com o gestor, os recursos federais conseguidos no governo Temer para o projeto não puderam ser usados e o Estado, depois de o contrato assinado para a obra, teve de bancar com recursos próprios.
“Estou acionando na Justiça para que eu fique com recursos que estão depositados aqui na Conta do Ceará, mas não me permitem usar um centavo durante a obra”.
Relação conturbada
Camilo Santana e Jair Bolsonaro tiveram uma relação difícil desde que o presidente assumiu o Palácio do Planalto. Desde então, Bolsonaro veio ao Ceará em seis oportunidades, mas não esteve com o gestor estadual em nenhuma delas.
“Em nenhum momento, o presidente chamou os 27 governadores para tratar da pandemia. Ao contrário, várias vezes ele veio aqui em momentos de crise para criticar e estimular que não usasse máscaras, fazendo aglomeração. Isso está errado. Nós mudamos quatro vezes o ministro da Saúde no meio da pandemia. A história ainda irá escrever esse capítulo que vivemos”, disparou.