No contexto atual, a vice-governadora Izolda Cela e o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, partem na frente na corrida interna do PDT para definição do candidato ao Governo do Estado. A posição aparente de dianteira dos dois revela as articulações favoráveis a cada um deles, entretanto, o histórico de definições de candidatos do grupo recomenda moderação.
Em uma rápida olhada ao retrovisor, é possível constatar que nem Roberto Cláudio, em 2012, na corrida pela Prefeitura de Fortaleza, nem Camilo Santana, em 2014, na sucessão estadual, e nem José Sarto, em 2020, no pleito da Capital, eram considerados favoritos faltando sete meses para a eleição. Detalhe: todos saíram vitoriosos.
Ou seja, não é porque partem na frente que um dos dois será o candidato governista, embora, indiscutivelmente, tenham força para tal, independentemente das circunstâncias.
Internamente, há quatro nomes postos como pré-candidatos pelo PDT: Izolda, Roberto, o deputado federal Mauro Filho e o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão. Recentemente, o deputado estadual Zezinho Albuquerque, ex-presidente da Assembleia, manifestou o desejo de concorrer e tem no radar uma mudança de partido para o PP.
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A definição do candidato a governador, como sempre acontece no grupo governista local, passará pelo crivo do comando formado pelo ex-ministro Ciro Gomes, o ex-governador Cid Gomes e o governador Camilo Santana (PT). Estes líderes costumam dizer que a definição parte de uma série de critérios como pesquisas de opinião, capacidade de aglutinar forças políticas e, sem dúvida, as conveniências do grupo político.
Também é do conhecimento geral dos aliados que a discrição e o trabalho de bastidores em busca de agregar alianças é um ponto bastante considerado pelo comando do grupo no momento das definições. É como se houvesse um conjunto de regras tácitas que geram um código de conduta entre os aliados no sentido de que todos os movimentos precisam ser medidos.
Por que, então, a disputa interna começou de forma tão antecipada? Bem, cada eleição tem sua dinâmica própria. E esta, de 2022, tem uma peculiaridade. Pela primeira vez em uma década, o jogo entre os pré-candidatos tem um ponto de “desequilíbrio” - se é que podemos abordar desta maneira. Pela primeira vez, um dos postulantes estará sentado na cadeira e poderá concorrer à reeleição. É o caso de Izolda Cela.
Conforme já abordado nesta coluna, Izolda se aproximou de Camilo Santana e está passando por um processo de imersão nas missões governamentais.
As aparições públicas dela e a ênfase dada pelo governador à sua provável substituta, se somam ao falatório nos bastidores de lideranças próximas de Camilo que apontam Izolda como nome preferido. No PT, por exemplo, cresce a aceitação a ela.
A relevância de Izolda não ocorre por uma ação deliberada dela de aparecer como pré-candidata. A ex-secretária de Educação nem tem um grupo político coeso para chamar de seu. Entretanto, para as pretensões de Camilo Santana, que vai deixar o cargo no dia 2 de abril para concorrer ao Senado, é fundamental ter quem como aliada de primeira hora a figura que vai ficar na cadeira com a caneta na mão. E isso desencadeou reações entre os aliados de Roberto Cláudio.
O ex-prefeito comandou a maior cidade do Estado por 8 anos, teve papel relevante na eleição do sucessor em uma Capital cujo eleitorado costuma promover a alternância de poder a cada período, e possui um grupo de influência robusto.
Foi exatamente a relevância das figuras aliadas a Roberto Cláudio que gerou a primeira agitação pré-eleitoral deste ano, após uma declaração do prefeito José Sarto de apoio ao nome de Roberto. Nenhum dos dois iniciaria tal manifestação sem o aval de Ciro Gomes.
O movimento, que ganhou corpo, pegou vários aliados de surpresa. O mais relevante foi justamente Camilo Santana que, horas depois do anúncio de Sarto, na última quinta-feira (3), reagiu em declaração a esta Coluna. Disse que se tratava de uma opinião pessoal do prefeito e que um “nome de consenso”, “no momento certo”, seria anunciado.
No dia seguinte, sexta-feira (4), Cid Gomes corroborou com a fala do governador, como que tentando apagar algum foco de incêndio. O fato é que a movimentação da primeira semana de março deixou claro que a disputa interna pela cabeça de chapa não deve acontecer na calmaria que se verificou em pleitos anteriores.