O que a declaração de apoio de Sarto a Roberto Cláudio indica na sucessão de Camilo Santana

Movimento pegou aliados de surpresa e obrigou o governador a acalmar a agitação na base. Crescimento de Izolda gerou alerta e reação de apoiadores do ex-prefeito

Legenda: Lado a lado na campanha eleitoral vitoriosa de 2020, Sarto e Roberto Cláudio continuam juntos para a sucessão estadual

A declaração do prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), em favor do nome de Roberto Cláudio para ser o candidato do partido ao governo do Estado, na sucessão de Camilo Santana (PT), inaugurou nova etapa na pré-campanha do grupo governista, pegando aliados de surpresa. A agitação mostra que, mesmo aparentemente morno perante os holofotes, o jogo da sucessão no grupo governista está quente nos bastidores.

Esta é a primeira manifestação de apoio de um pedetista de peso a um dos nomes postos para a disputa e mostra o prefeito da maior cidade do Estado de volta à arena política.

José Sarto está iniciando seu segundo ano de mandato e, por governar o principal centro urbano do Estado, tem um peso diferenciado dentro do PDT e da aliança governista. Daí a agitação que a declaração dada em entrevista, após questionamento do repórter do Diário do Nordeste, Felipe Azevedo, causou entre os aliados.

Até este momento, o prefeito da Capital estava se esquivando de opinar sobre a sucessão estadual. O posicionamento do prefeito  aponta para dois rumos: dá o start na estratégia dele de se fortalecer como liderança política, capaz de influir nos rumos que o partido tomará no Estado, e indica o início de um movimento pró-Roberto Cláudio.

Além do ex-prefeito de Fortaleza, o PDT tem a vice-governadora Izolda Cela, o deputado federal Mauro Filho e o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, como pré-candidatos. Recentemente, o deputado estadual Zezinho Albuquerque também manifestou interesse em concorrer ao Executivo.

Movimentos das lideranças

Um aspecto difícil de desconectar do movimento de Sarto é o momento evidente em que a vice-governadora Izolda Cela tem um crescimento considerável e até natural no campo político. Ela deve assumir o cargo de governadora, em definitivo, no dia 2 de abril, quando Camilo Santana deverá renunciar ao cargo para concorrer a uma vaga no Senado Federal.

Por conta disso, Izolda está passando por um processo de imersão, ao lado de Camilo Santana, que envolve atos administrativos, aparições públicas e posicionamentos nas redes sociais, como parte da nova estratégia de posicionamento dela como liderança política.

Os avanços de Izolda, mesmo que ela não fale diretamente sobre candidatura, geram alerta nos demais pré-candidatos, até porque ela estará sentada na cadeira e poderá concorrer a reeleição.

Ao se escalar como apoiador direto, Sarto reforça a mensagem, entre os governistas, de que o ex-prefeito Roberto Cláudio terá apoios de peso na disputa pela cabeça de chapa.

A declaração ainda gera repercussões, tendo em vista que o combinado seria deixar as definições para um momento posterior.

A própria resposta do governador Camilo Santana, dada com exclusividade a esta coluna, após a fala de Sarto, mostra surpresa e o interesse do governador em manter o jogo aberto, para sustentar a coesão e acalmar o largo grupo de aliados.

Por outro lado, aliados e defensores do nome do ex-prefeito da Capital aproveitaram o movimento para se posicionar, criando até movimentos em redes sociais.

Passado recente

Resgatar o que houve na eleição 2020 é fundamental para compreender este momento da sucessão estadual. Escolhido na dinâmica interna do PDT para a sucessão municipal, Sarto contou com irrestrito apoio de Roberto Cláudio na campanha eleitoral.

A atuação de Roberto foi importante, principalmente, no primeiro turno quando o governador Camilo Santana, mesmo o meio político sabendo de sua predileção pelo pedetista, teve que se afastar da disputa por conta da candidatura própria do PT na Capital com Luizianne Lins.

Some-se a isso, o fato de as principais lideranças do PDT como Cid e Ciro Gomes terem cumprido papel discreto na campanha pedetista na Capital. O ex-prefeito, então, teve papel decisivo na eleição do correligionário. A fatura – pelo menos a de gratidão ou reciprocidade – parece estar chegando.