Alta nos alimentos e desgaste político: Lula enfrenta pior momento desde o início do mandato

Pesquisa Quaest divulgada nesta segunda (27) mostra, pela primeira vez, desaprovação maior do que aprovação; veja as causas

Escrito por
Inácio Aguiar inacio.aguiar@svm.com.br
(Atualizado às 10:51)
Legenda: O presidente tem usado chapéu desde que se submeteu a uma cirurgia para drenar um coágulo cerebral, outro fator que limita a atuação dele
Foto: Agência Brasil

O governo Lula enfrenta o início de semana mais desafiador desde o início de seu terceiro mandato, em janeiro de 2023. A pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta segunda (27), acendeu um alerta no Planalto ao mostrar que, pela primeira vez, a desaprovação (49%) do governo supera a aprovação (47%). Esse dado reflete um momento de múltiplas crises, com impactos diretos na percepção popular, marcada por dificuldades econômicas, políticas e de comunicação. 

A crise com maior impacto imediato na população é o aumento no preço dos alimentos. A alta tem pressionado o bolso dos brasileiros, especialmente das classes mais vulneráveis.  

No último fim de semana, o presidente Lula gravou um vídeo na horta da Granja do Torto para tentar explicar a situação e garantir que o governo está trabalhando para conter a alta nos preços. No vídeo, ele citou reuniões com atacadistas, produtores e donos de supermercados, mas o cenário segue desafiador.  

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A percepção de inação ganhou força na semana passada, quando o ministro da Casa Civil, Rui Costa, deu uma declaração truncada que abriu espaço para especulações sobre uma possível interferência estatal no preço dos alimentos, o que desestabilizou ainda mais os mercados. 

Recuo no caso do Pix 

Outro ponto crítico foi a mudança no Pix, que gerou forte repercussão negativa. Anunciada como uma medida para facilitar o controle sobre grandes movimentações financeiras, a mudança foi alvo de uma onda de desinformação nas redes sociais e críticas ferozes da oposição, que acusou o governo de querer "taxar o povo". A pressão obrigou o Planalto a recuar, em um movimento que expôs falhas na comunicação governamental e ampliou a percepção de fragilidade diante da opinião pública. 

Dólar e juros em alta 

A situação econômica também não colabora. A alta do dólar e dos juros têm impactos diretos nos preços de produtos básicos e no custo de vida, o que aprofunda a insatisfação popular. Além disso, essas condições complicam o ambiente para investimentos, enfraquecendo o mercado interno e as perspectivas de crescimento.  

O governo tem dificuldades em criar uma agenda que dialogue com o mercado – que mantém uma certa má vontade – e a população, mantendo o equilíbrio necessário para enfrentar tais desafios. 

Relações políticas frágeis 

No campo político, o Planalto sofre com a posição frágil no Congresso Nacional, onde encontra grande dificuldade para avançar com pautas essenciais. A falta de uma base consolidada inviabiliza reformas estruturantes e medidas capazes de acalmar os mercados e melhorar a percepção da gestão.  

O Congresso hostil não apenas limita a capacidade de ação do Executivo, mas também contribui para a construção de narrativas da oposição, que explora os erros do governo e amplia as críticas em momentos de crise. 

Eleição 2026 já no horizonte 

Esse cenário de múltiplos desafios cobra respostas rápidas e assertivas do governo Lula. A combinação de crises econômicas, políticas e de comunicação exige uma reavaliação urgente das estratégias adotadas até agora.  

A desaprovação crescente e a instabilidade no mercado lançam dúvidas sobre a capacidade do governo de retomar a confiança da população e se colocar em posição competitiva para as eleições de 2026. A imprensa já começa a trazer informações de que o presidente pode até não ser candidato.  

O Planalto precisa, mais do que nunca, demonstrar força política, organizar a base governista e entregar resultados concretos para equilibrar os diversos fatores que pesam sobre sua gestão.