Lufthansa e ITA Airways preparam, enfim, terceiras bases no Brasil?

Escrito por
Igor Pires igor.aer.ita@gmail.com
(Atualizado às 15:45, em 16 de Outubro de 2025)
Foto: AFP

A apresentação do grupo Lufthansa em seu Capital Markets Day 2025, no final de setembro, revelou uma estratégia clara: na América do Sul, foco no Brasil, aproveitando companhias aéreas parceiras para estender sua rede de cobertura.

A estratégia se dará a partir dos hubs de Frankfurt e Roma, dado que a Lufthansa adquiriu 41% da italiana ITA Airways.

Imagem mostra o print do levantamento financeiro da companhia
Foto: Lufthansa Group Capital Markets Day / Reprodução

Mais, em todo o mundo, com subsidiárias do grupo Lufthansa, como a Discover Airlines, deverá voar mais com oferta complementar turística para mercados secundários, com crescimento em oferta que pode chegar a 10% até 2029.

Todo esse descritivo combinaria com uma eventual e inédita abertura de nova(s) base(s) de passageiros do grupo Lufthansa no Brasil, num movimento análogo ao que fizeram recentemente a Air France, a Air Europa e, logo mais, a Iberia.

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É verdade que todas essas novas bases acima mencionadas se deram no Nordeste brasileiro. Para fomentar uma eventual nova base no Brasil, com esse contexto leisure, tickets de menores ganhos, a Lufthansa pode contar com uma menor estrutura de custos em sua subsidiária.

A Discover conta, segundo informações do Lufthansa Group, com até 40% menos custos com tripulações, e ainda contará com a incorporação de mais aeronaves widebody de próxima geração, com redução de até 30% no consumo de querosene.

O grupo Lufthansa voa para 14 destinos na América do Sul, com até 28 voos diários. São apenas 2 no Brasil: São Paulo e Rio de Janeiro.

Não estaria nada desalinhado do plano de voo do grupo, portanto, voar para novas cidades do Nordeste, altamente dependentes de passageiros a turismo.

A Latam, inclusive, reforçou codeshare com o grupo Lufthansa, facilitando conexões no Brasil e na Europa, algo que pode certamente incrementar as taxas de ocupação de voos ao Nordeste.

Fortaleza e Salvador: campeãs de atração de alemães, italianos e suíços

Se formos realizar uma análise de qual cidade poderia abrigar novos voos da Discover, precisamos falar, sobretudo, de Fortaleza e Salvador.

É importante lembrar também que o Nordeste contou por muitos anos com voos da companhia aérea alemã Condor, que só deixou a região por problemas econômicos do seu grupo controlador, a Thomas Cook.

A Fraport AG, do grupo que administra o Aeroporto de Fortaleza, mantém uma joint venture com a Lufthansa em Frankfurt (FraAlliance), o que pode facilitar negociações. Essa relação institucional é um ativo que precisa ser explorado.

A Fraport Brasil, inclusive, esteve no Routes Americas 2025 e no Routes 2025, em Hong Kong, eventos onde todo o trade de companhias aéreas e destinos se encontram, e deve ter tido a chance de negociar com a Lufthansa.

Nessa receita, a Fraport já comentou sobre um interesse que teria tido a Discover Airlines para voar a Fortaleza. Não viria a Lufthansa, mas sua subsidiária.

Os principais mercados onde as companhias do Lufthansa Group operam são Alemanha, Itália e Suíça. A companhia aérea Swiss também faz parte do grupo Lufthansa.

Nesse contexto, Fortaleza e Salvador são as duas cidades que mais atraem turistas dessas três nacionalidades, sem possuírem, porém, voos diretos, segundo dados da Embratur. Recife não poderia ser descartada da mesma forma.

Dados recentes da Embratur mostram que o Ceará recebeu mais de 6.300 alemães em 2024, liderando a atratividade de alemães. A liderança também ocorreu entre 2022 e 2023.

Em 2025, vê-se número estável, mas inferior à movimentação de alemães na Bahia. Salvador tem crescido muito nessa atração, possivelmente com a chegada da Air France e o incremento de voos da Air Europa.

Print de um infográfico
Foto: Elaboração própria

A mesma tendência de liderança de Fortaleza ocorre em relação a italianos, porém em ainda maior escala de movimentação, acompanhada de forte crescimento em Salvador.

Em 2024, chegaram mais de 11.000 italianos a Fortaleza, mais de 200 por semana. Fortaleza tinha voos semanais para a Itália até 2018, quando chegaram a Air France e a KLM ao Ceará.

Após isso, não conseguiu mais recuperar a movimentação direta. Isso não impede, porém, que milhares de italianos exerçam seu apreço pelo Ceará, Bahia e adjacências.

Seria essa movimentação suficiente para o grupo Lufthansa acionar a ITA Airways para voar ao Nordeste?

O relatório aos investidores do Lufthansa Group diz que o custo de operar no hub de Roma é ainda mais barato: “Base de baixo custo de localização com configuração enxuta”.

Lembremos que a antiga Alitalia voou a Fortaleza em 2013, da mesma forma como a Iberia voou em 2010 e está agora de volta.

Print de info.
Foto: Elaboração própria

O que diz a Lufthansa?

A Discover Airlines opera voos de longo curso a partir de Frankfurt e Munique, com frota de Airbus A330 e foco em destinos turísticos.

O grupo Lufthansa triplicou sua oferta turística em 10 anos e projeta que mais de 50% de sua frota narrowbody estará alocada em empresas como a Discover até 2030.

O grupo também aponta o Brasil como mercado prioritário na América do Sul, com destaque para Brasil e Argentina em sua estratégia de expansão.

Além disso, com a ITA Airways, o grupo espera sinergia com o uso da frota Airbus e mais fácil alcance ao Hemisfério Sul com seu hub em Roma.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor. 

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