Opinião
Interditado há dois anos, aeroporto de Caicó (RN) tem grande potencial a ser desenvolvido; entenda
O aeroporto de Caicó, no sul do Rio Grande do Norte, região do Seridó, encontra-se indisponível para voos convencionais desde 7 de janeiro de 2022. A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) interditou o equipamento por meio da portaria Nº 6.923/SAI de 2022 devido a uma série de irregularidades no local.
A uma altitude aproximada de 200 metros sobre o nível do mar, o aeródromo de Caicó (SNKK) tem pista de 30m de largura por 980 metros de extensão, de asfalto com resistência de pavimento PCN 12, baixa, e resistência de subleito média. O aeródromo tem homologação para operação VFR diurna.
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"A medida cautelar aplicada refere-se à proibição de operações de pouso, exceto no caso de operações de emergência médica ou de transporte de valores realizadas mediante prévia coordenação com o Operador do Aeródromo", informava o parágrafo primeiro da portaria. O aeroporto pertence ao Governo do Rio Grande do Norte e atualmente é administrado pelo DER-Departamento de Estradas de Rodagem.
Piorando o cenário, em 27 de março de 2023, a portaria 6923 da ANAC foi revogada por outra: No 10.846/SIA, que excluiu o aeródromo Público Caicó ao tráfego:
"Art. 1º Excluir o aeródromo público abaixo do cadastro, fechando-o ao tráfego aéreo:
I - Denominação: Caicó".
Dessa forma, operações de quaisquer naturezas no equipamento estão desabonadas pela ANAC, logo proibidas: perda para o município e região de Caicó, que agrega mais de 30 municípios com um total aproximado de 300.000 habitantes, sem acesso direto a aeroportos disponíveis para uso geral dado que, por exemplo, também o aeroporto de Currais Novos está fora de operação por determinação da ANAC.
Irregularidades
Na semana do carnaval, pude conferir in-loco uma série de não-conformidades numa passagem de pouquíssimos minutos pela área do aeródromo, como vegetação alta, fezes de animais nos pavimentos lado ar, animais pastando na área de circulação de pousos e decolagens.
Justamente, a ANAC havia suspendido as operações convencionais devido à falta de uma cerca/muro efetivo para tornar o ‘lado-ar’ do aeródromo estéril ao ambiente externo. Lado-ar é a região do aeroporto restrita à presença de pessoas, área de circulação de passageiros, funcionários e aeronaves.
O prefeito de Caicó informou, em um para perfil de rede social na semana passada, que o estado do RN busca recursos da ordem de R$ 8 milhões para não apenas adequar o isolamento e manutenção básica das instalações, mas para construir nova pista de pouso e decolagem, dado que, segundo o gestor, a atual sofre com o risco de aquaplanagem:
“A pista do aeródromo foi reformada (...) (entre 2011 e 2015), mas não foi feita a zona de drenagem, então nós temos pontos de aquaplanagem na pista. A pista precisa ser refeita (...). No orçamento realizado pelo estado ao Governo Federal, era um valor de R$ 8 milhões de reais”, disse o Prefeito.
Seria importante também, sugerir a ampliação da pista, para garantir operações de aeronaves maiores no médio prazo.
Já conversamos também sobre outro aeroporto potiguar em franca expansão de operações, porém, carente de infraestrutura: o Aeroporto de Mossoró.
No dia 14/02, o Diário Oficial da União, publicou contrato de quase R$ 18 milhões da INFRAERO com empresa privada para fins de melhoria nos pavimentos de pistas e pátio do aeroporto de Mossoró.
Carnaval
Com as limitações do aeroporto desde 2022, foi o terceiro carnaval seguido da cidade de Caicó-RN, sem contar com um aeroporto funcional.
Caicó localiza-se a uma relevante distância de Natal. São longos 270 km de distância de rodovia de qualidade, porém, que se torna sinuosa à medida que se aproxima do município. A viagem de carro torna-se facilmente uma jornada cansativa de 5 horas.
Voos particulares ou comerciais para a cidade, alternativamente, encurtariam sobremaneira a jornada, tornando ainda mais atrativo o excelente carnaval público da cidade. Testemunhei uma grande e organizada festa com inúmeros trios-elétricos pelas ruas da cidade. Destaco ainda o clima familiar do evento.
Ouvi localmente que se trata do maior carnaval do Rio Grande do Norte, chegando a fazer dobrar a população do município, que é maior que 60.000 habitantes e possui, por exemplo, curso de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte: imagino quantos milhões de reais esses foliões trazem para a cidade num evento de até 5 dias de muita folia.
Redes sociais da cidade informavam o cômputo de até 100.000 pessoas espalhadas pelas ruas do município, curtindo o carnaval 100% público.
Toda essa grande manifestação cultural, que é a cara do Brasil e, ainda mais do Nordeste, poderia ser ainda maior se a cidade estivesse com seu aeroporto operando. Aviação é dinamismo econômico para qualquer cidade.
Recebemos informações, por exemplo, que o cantor Ricardo Chaves chegou ao carnaval da região em um voo que iria a Patos, no estado vizinho da Paraíba, localizado a 90 km de Caicó. O mesmo aconteceu com o cantor Felipe Amorim, segundo perfis de redes sociais. Tivessem chegado já pelo aeroporto de Caicó, os tráfegos gerariam divisas ao estado mediante taxas aeroportuárias, abastecimento, receptivos locais.
Em 2023, por exemplo, para os festejos juninos na cidade de Mossoró, a Azul Conecta fez ações de marketing voando para o município.
Que o leitor se recorde também, a aviação traz muitos novos visitantes para uma localidade, e mais importante, facilitando a chegada destes.
Cobrimos parte do gigante São João de Campina Grande ano passado e a maior quantidade de voos foi chave para mais pessoas de todo o Brasil chegarem à região. 2024, com um “mar” de novos voos, Campina Grande terá a chance de mostrar novamente sua bela festa com números inéditos.
Aeroporto precário
O aeroporto de Caicó, como já dissemos, possui pista de 980 metros por 30 metros de largura, o que não dá de cara a perspectiva da operação de jatos pequenos ou de um ATR-72.
Segundo a ANAC, o comprimento básico de pista para o ATR 42 e 72, são, respectivamente, de 1090 e 1410 metros.
Há de se mencionar que o terminal de passageiros também é pequeno, porém, não chegaria a ser um problema atual para voos comerciais, já que no próprio Ceará, pude conferir também pequenos terminais como o do Aeroporto de São Benedito.
