Aviões estão pousando no sentido invertido da pista do Aeroporto Pinto Martins; entenda o motivo
Desde, pelo menos, a última terça-feira (27), o aeroporto Pinto Martins tem operado pousos e decolagens com "cabeceira invertida". O que significa? Os pousos e decolagens estão acontecendo no sentido Aquiraz > Caucaia, quando o habitual é pousar e decolar de Caucaia para Aquiraz. Um espetáculo à parte, inclusive, que acontece quando o vento em Fortaleza muda.
Na aviação, pousos e decolagens são operados sempre contrários ao vento. Isso acontece porque, correndo contra o vento, aumenta-se a sustentação das aeronaves e, por isso, mais segurança tem-se nas operações.
Pois bem, o vento em Fortaleza, na esmagadora maioria das vezes, sopra no sentido de leste para oeste, sobra da Praia do Futuro, alguém poderia dizer corretamente. Assim, sempre as aeronaves vão pousar e decolar contra esse vento de leste, utilizando sempre a cabeceira 13 da pista do Aeroporto Pinto Martins. A cabeceira 13 (direção 130º da bússola) da pista é a cabeceira voltada para o Montese, que fica na altura da estação VLT do Metrô de Fortaleza.
Em 2022, por exemplo, a cabeceira 13 operou 100% dos dias nos meses de fevereiro a dezembro, conforme quadro abaixo. Apenas em janeiro, 1% do tempo, houve uso da cabeceira 31, como temos visto em 2024 há quase uma semana. Ou seja, a cabeceira 13 “esteve sempre” em uso em Fortaleza.
Em 2023, já houve um pouco mais de predominância da cabeceira 31: 1% de uso. Em março de 2023, houve 403 movimentações pela cabeceira 31, 9% do total. No mesmo ano, tivemos alguns dias de cabeceira 31, porém, apenas por algumas horas. Então, havia uma inversão do vento momentânea, nada como vimos desde o último dia 27.
Em 2024, porém, como dissemos, já são 6 dias de uso da cabeceira 31, uma permanência difícil de se ver. Por exemplo, tenho 35 anos e, numa média anual de 10-12 trechos aéreos voados, nunca havia conseguido pousar e/ou decolar com um avião cabeceira 31 em Fortaleza.
Eis que, semana passada, justamente, não só decolamos com cabeceira 31, mas pousamos também: é muito difícil do vento virar; mais difícil ainda é o tempo virar e permanecer virado.
Se fôssemos fazer uma proporção do tempo de uso da cabeceira 31, até aqui, seriam aproximadamente 6 dias sem parar de cabeceira invertida: algo como 20% de um mês, bastante coisa. Mais que o dobro do março de 2023.
Como está o vento agora? Nesta segunda-feira (4), o vento sopra de norte, vento de través. Está praticamente perpendicular (fazendo 90º) com o eixo da pista. O vento já tem uma componente novamente de leste para oeste. Ontem, domingo (3), havia clara tendência de componente vinda de oeste.
Isso quer dizer que o vento pode estar voltando para seu comportamento usual em Fortaleza, isso é, cabeceira 13, aeronaves provenientes de Caucaia.
Talvez esteja se encerrando esse ciclo de vento invertido, algo que ocorre na nossa temporada de chuvas e de maus-tempos. Todo tipo de massa de ar sopra sobre o Ceará nessa estação chuvosa, natural que o vento mude.
As alterações de cabeceira, com todo esse oscilar do vento, porém, visam apenas uma coisa: o mais alto grau de segurança nas operações aéreas.
A mudança de cabeceira ainda permite que os viajantes e a população vejam a cidade e os aviões de outros ângulos, de outras altitudes, espetáculo à parte. Decolando e vendo a ponte do Rio Ceará ou, pousando e vendo a Praia do Futuro, tem uma magia diferente.
