Fortaleza poderá ter voo direto para Londres? Entenda interesse de uma companhia inglesa pela rota

Legenda: Companhia inglesa Virgin Atlantic já havia divulgado em 2019 interesse de voar para Fortaleza
Foto: JUSTIN TALLIS / AFP

As possibilidades de Fortaleza receber um voo direto para Londres, na Inglaterra, fortaleceram-se recentemente. Para entendermos esse movimento, precisamos voltar ao mês de setembro de 2019, quando a mídia brasileira dava destaque à figura (veja abaixo) de eventuais futuros destinos da Virgin Atlantic, companhia aérea do bilionário Richard Branson.

Legenda: Plano de rotas da Virgin no mundo, incluindo Fortaleza
Foto: Divulgação/Virgin

Naquela época, a Virgin sinalizou operar em Fortaleza, antes de sabermos da chegada da pandemia de Covid-19.  

A possível chegada da empresa nunca havia sido aventada antes disso. Nenhuma operação sequer para o Reino Unido - o Ceará nunca teve voos regulares para lá. Então, naturalmente, a euforia para quem acompanha a aviação cearense é grande. 

Porém, a Virgin colocara Fortaleza no mapa de futuras rotas. A Capital era a única cidade do Brasil, junto com São Paulo. Naquela época, Fortaleza estava recebendo um volume considerável de companhias estrangeiras interessadas em operar no Aeroporto Pinto Martins. 

Se o voo se concretizasse, Fortaleza teria voos para o maior hub da Europa, com quase 80 milhões de passageiros por ano: o Aeroporto de Heathrow. Segundo a imagem da Virgin, Fortaleza seria “nova rota após expansão do aeroporto de Heathrow”.

Voltando aos dias atuais, o leitor deve estar se perguntando: Igor, por que então a possibilidade da companhia britânica voar para Fortaleza voltou a ser comentada? 

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Vamos aos fatos:

  1.   A Embratur esteve reunida com a Virgin em São Paulo no fim de setembro deste ano. A agência brasileira buscava apresentar flexibilização de regulações para atrair companhias. É uma boa hora de retomar os voos para São Paulo, que já estavam programados, mas a pandemia não deixou.
  2.   Essa semana, em fórum especializado, informação de bastidores indicaria que a companhia voará para 4 destinos na América do Sul: Guarulhos (SP), Fortaleza (CE), Bogotá (Colômbia) e Lima (Peru). Ora, justamente destinos mencionados em 2019.
    Adicionalmente, o comentário dava conta de que a Virgin teria parceria com a Latam para distribuir passageiros europeus pela América do Sul, o que nos leva ao 3º fato:
  3.   O site da Virgin Atlantic chamou atenção em janeiro deste ano para codeshare – acordo em que duas ou mais companhias compartilham o mesmo voo - com a Latam.

Mais uma peça do quebra-cabeça

    4. Por fim, verifiquei que 49% da Virgin pertence à Delta, que tem parcela do capital da Latam. Adicionalmente, a Virgin tem forte proximidade com o grupo Air France-KLM, que já opera em Fortaleza. Dessa forma, Latam, Delta, Air France-KLM e Virgin poderiam ser parceiras em conjunto. 

Caberia a Virgin em Fortaleza?

Apenas pelo critério de número de assentos que já tivemos para a Europa, cabe quase 1 voo por dia da Virgin, já que perdemos 4 frequências da KLM e 2 da Air Europa por causa da pandemia.

Segundo ponto: os inputs que recebo sobre voos para Londres são de que as tarifas aeroportuárias são muito caras, de forma que o preço das passagens acaba sendo elevado. Ou seja, diz-se que é um trecho de high yield, o passageiro deve pagar muito para voar.

Em 2019, porém, os preços da Virgin eram apenas 12% mais caros que os de Latam e British Airways, outra companhia britânica. Saindo os voos de Fortaleza, os voos deveriam ser ainda mais baratos pela menor distância até Londres: a melhor distância, diga-se de passagem.

Esses valores (R$ 8 mil, R$ 9 mil), contudo, são vistos em voos de pouca antecedência praticados entre Fortaleza e Paris e, ainda assim, as ocupações são excelentes, sobretudo porque o fluxo de passageiros europeus vindos ao Brasil é relevante.

Assim, o critério preço de passagem também não desabona Fortaleza de possuir a movimentação da companhia inglesa.

Ademais, vi vários sites que caracterizam a operação da companhia como low cost, ou seja, baixo custo, podendo ser vetor de atração de passageiros que buscam viagens de passeio e buscam melhores preços, os chamados clientes leisure ou de lazer.

Outro ponto de análise seria o acordo de codeshare da Latam e Virgin. A brasileira poderia distribuir os passageiros da companhia inglesa para diversas cidades do País. Encher os aviões ficaria ainda mais fácil.

Nesse ponto, o hub Latam em Fortaleza teria papel crucial: elevada quantidade de voos domésticos e destinos. Já fizemos um raio-X das operações da brasileira na Capital e vimos dezenas de destinos nacionais.

A Latam foi questionada sobre a parceria para conectividade bilateral na América do Sul e em Londres. "A Latam esclarece que possui uma parceria de codeshare com a Virgin Atlantic desde janeiro deste ano. O acordo não é bilateral, é uma parceria aplicável somente em voos da Virgin Atlantic", informou a empresa. 

Um voo para Londres, ademais, ajudaria a criar novos eixos de escoamento de turistas: atrairia tanto sul-americanos para a Europa quanto europeus para todos os países da América do Sul. Nesse meio, estaria Fortaleza se enrobustecendo como nova porta de chegada.

Igor, então com todos esses critérios acima, a Virgin virá e fará um mega-hub em Fortaleza? Não, nada disso está na mesa, muito menos que a Virgin virá. Estamos apenas refletindo sobre possibilidades de um novo voo internacional.

Tudo isso poderia até mesmo se confirmar, e o voo ser um fiasco ou deixar de ser operado após alguns meses de operação. Quem diria que a Air France deixaria de voar para Brasília (2º hub brasileiro), mas daria certo em Fortaleza?

Mesmo assim, com os excelentes resultados que tivemos com Air France e KLM desde 2018, preciso ter a coerência de dizer que futuros voos com Virgin têm muito potencial, mas, sobretudo, são muito necessários: o Brasil precisa aumentar a quantidade de turistas internacionais.

Assim, voos novos e, que se diga, voos que possam parecer não dar certo, precisam ser estimulados, postos à prova. De outra forma, se assumirmos de partida que novos destinos não são convenientes, pois trazem riscos, insegurança financeira e etc, o empreendedorismo comercial aéreo morre.

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.

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