Como Fortaleza pode se beneficiar com as restrições de voos no Aeroporto Santos Dumont

Legenda: Aeroporto Santos Dumont não possui voos para Fortaleza
Foto: Alexandre Macieira/Riotur

Muito se comenta sobre a restrição de voos no Aeroporto Santos Dumont, que passará, segundo o Prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, a operar voos apenas para São Paulo e Brasília. O movimento corresponderia aproximadamente à manutenção de 60% do volume de passageiros, de acordo com dados Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) de abril de 2023.

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O restante dos 40% dos passageiros (demais destinos), deveriam ser realizados novamente a partir do Aeroporto Internacional Tom Jobim - Galeão, terminal que tem sofrido bastante com a ociosidade de operações aéreas.

O Galeão tem capacidade para mais de 30 milhões de passageiros por ano, mas tem recebido apenas a ordem de 600 mil passageiros por mês, o que daria menos de 8 milhões por ano, aproximadamente 25% da capacidade máxima.

Mas qual a relação dos aeroportos cariocas com a movimentação de passageiros em Fortaleza e nas demais cidades nordestinas?

A limitação de voos no Santos Dumont repovoará o Galeão e deverá reativar mais voos do Galeão para Fortaleza e para o Nordeste. 

Neste texto, não entraremos no mérito sobre os pontos negativos, amplamente alegados, de se voar no Aeroporto do Galeão, como maiores distâncias e a segurança pública. 

Por que então o movimento para o Galeão trará mais voos ao Nordeste? Entre janeiro e abril de 2023, do Santos Dumont, só partiram voos comerciais para 5 destinos nordestinos: Ilhéus, Porto Seguro e Salvador na Bahia, Recife em Pernambuco, e Maceió em Alagoas. A restrição é tamanha que Gol e Latam voam apenas para destinos na Bahia.

Isso acontece porque a pista de pousos e decolagens do Santos Dumont (1.323m) é muito curta para decolagem com grandes quantidades de passageiros para capitais do Nordeste mais distantes como São Luís, Fortaleza, Natal, João Pessoa. 

Lembrando que, quanto mais longe, mais combustível necessário para se voar; quanto mais combustível, maior o peso, assim, mais comprimento de pista seria necessário para decolagem.

Com restrição de número de passageiros, a operação passa a ser desinteressante para as companhias aéreas.

Do Galeão, por outro lado, as mesmas companhias voam para Aracaju, Fortaleza, Ilhéus, João Pessoa, João Pessoa, Porto Seguro, Recife, Maceió, Natal e São Luís.

Assim, mais voos no Galeão, significam mais voos para o Nordeste, dado que o aeroporto internacional carioca tem estrutura para ser um hub, diferentemente do Santos Dumont, em que sequer há voos para a maioria dos estados nordestinos.

Queda do Galeão e menos voos para Fortaleza

Desde 2017, a quantidade de voos da capital carioca para Fortaleza só diminuiu, conforme a linha cinza no gráfico abaixo. A queda coincide com a redução de voos no Galeão (SBGL), barras azuis.
Da mesma figura, vê-se como, sobretudo após a pandemia, o Galeão foi esvaziado e o Santos Dumont (SBRJ) ganhou protagonismo. O Rio tem, portanto, dois aeroportos: o Galeão ocioso e o Santos Dumont saturado.

Em 2018, o Galeão contava com 76 destinos diretos regulares, entre domésticos e internacionais. Em 2023, são apenas 43 destinos.

Mais voos para o Nordeste

Já havíamos contado no início de maio que a Latam criaria o 2º voo entre Fortaleza e Galeão. Há alguns dias, adicionalmente, essa segunda ligação já estava à venda até janeiro de 2024, não sabemos se já seria consequência da restrição do Santos Dumont.

A Gol também mostra mais operações do Galeão para Fortaleza: 66 partidas em jun/23, contra uma média de 86 partidas entre jul/23 e dezembro/23.

Dessa forma, essa é a expectativa da coluna, com mais passageiros circulando pelo Galeão, com todas as características de hub, inclusive com voos internacionais, esperamos que os voos entre o Rio e Fortaleza e o Rio e Nordeste recrudesçam. Uma porta que estava fechada, é aberta. 

Percebam que a quantidade de voos entre o Rio e Fortaleza em 2017 (maior que 400.000) ainda é 60% maior do que a previsão para 2023 anualizado (250.000). Então há um longo caminho a se percorrer para que se retornem a níveis mais próximos dos máximos históricos.

Adicionalmente, não é plausível que, para se ir ao Rio de Janeiro, 2ª cidade do país, o nordestino tenha que realizar conexões em outros aeroportos como Guarulhos e Brasília. Essa, porém é a filosofia em Fortaleza, por exemplo, com companhias como a própria Latam, dado que hoje ainda realiza apenas 1 voo direto por dia para o Rio.

A viagem que deveria ser de 2h40, passa tranquilamente de 5h, com a conexão em São Paulo. O Rio e capitais do Nordeste não merecem ausência ou poucos voos entre seus aeroportos. Teresina merece e tem potencial para se ligar ao Rio de Janeiro, por exemplo.

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*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.



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