Antes de começar esse texto e que você (respeitosamente espero) discorde de mim, vou fazer uma reflexão com relação às redes sociais: você já prestou atenção o quanto você é levado a pensar, comungar e reproduzir determinados discursos de opinião? Sejam políticos, religiosos, futebolísticos. Aquele tipo de pensamento que te toca na raiva, na mágoa ou na paixão com relação a alguma pessoa, entidade, partido ou até mesmo outra população?
Não sou eu que estou dizendo. Os algoritmos das redes sociais funcionam para jogar para você aquilo que, de fato, vai gerar sua concordância e reforçar sentimentos sobre determinados assuntos para fixar sua atenção. Tal fascínio, quando acrítico, pode te levar a um ponto perigoso, que é o tema deste texto de hoje: o extremismo.
O extremista é, antes de tudo, alguém com opinião formada e que não vai ser facilmente demovido daquela ideia, mas que vai aceitar e se satisfazer com todos os argumentos que, de alguma forma, alimentem o sentimento que ele já tem. Isso é perigoso e está dividindo a sociedade mundial como faca na melancia. Tem dica de filme sobre o assunto ao fim deste texto.
Mais elementos de ódio
Pois, bem. Passado este preâmbulo, é preocupante o que está acontecendo no futebol. Se antes as rivalidades clubísticas já eram pontos de extremismo e de cultivo do ódio entre grupos, o argumento do futebol, associado a desigualdades sociais históricas, reforçam um discurso raivoso entre nichos distintos.
Como todo discurso intolerante, ele parte da premissa que há argumentos, até históricos, que justifiquem atitudes intempestivas, como expulsar alguém de algum local e até mesmo agredir fisicamente outra pessoa. Não estou falando especificamente do episódio do jovem agredido no Benfica. Sei que ainda não há provas se era ou não um flamenguista. Não é do que trata este texto.
Mas o episódio serviu para acirrar ainda mais os ânimos entre 'nordestinos' e 'sudestinos', flamenguistas e tricolores, entre mistos e 'torcedores puros'. Há distorção de um problema real e histórico, que é a desigualdade e preconceito regional, se utilizando de uma sensação perigosa de justiçamento no grupo que sente inferiorizado.
Tal atitude não só reforça o problema social histórico, justificando comportamentos preconceituosos, como cria um sentimento de guerra entre grupos que nem eram rivais e em que pessoas inocentes podem pagar por sentimentos nada naturais alimentados através das redes sociais.
Os clubes e ligas erram ao defender ou naturalizar, de forma desmedida, o ataque aos torcedores de estados nordestinos que torcem para equipes como Flamengo, Corinthians etc. É uma atitude que não tem eficácia prática, tendo em vista que a realidade, mesmo no Nordeste, é diferente para a população. Muitas cidades sequer têm programação local, portanto é natural que acompanhem mais outros times que não o do seu Estado.
Fora que é ilegal. O direito de livre expressão está previsto na Constituição Federal. Quanto a isso não há discussão. Fica o apelo novamente aos times. Trabalhem para impedir o cultivo deste tipo de ódio. A conquista da torcida se dá através de relacionamento e de aproximação com o público, assim como os resultados dentro de campo. Não é preciso combater a individualidade de ninguém para se valorizar. Pensem nisso!
PS: segue a dica de filme: Dilema das Redes. Está no Netflix
PS2: Desconfie de quem quer ganhar seu clique, seu like, seu joinha alimentando discurso extremista