A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), principal normativo trabalhista do País, completa 80 anos em 2023. O que nasceu como uma coletânea de leis esparsas, sofreu diversas adaptações ao longo dos anos, mas ainda precisa se adaptar às novas realidades para garantir a proteção ao trabalhador.
Além de consolidar essas leis, a CLT instituiu novos direitos ao trabalhador, como férias remuneradas, seguro-desemprego, 13º salário, FGTS, horas extras, aviso prévio, e adicional noturno, entre outros.
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Contudo, em tempos de plataformas digitais, como Uber e iFood, e com a Inteligência Artificial começando a assumir funções até então exclusivas dos humanos, o desafio é buscar meios de garantir a proteção social dos trabalhadores.
Esse é o tema da aula magna que a professora e doutrinadora Carla Teresa Martins Romar, da PUC-SP, irá apresentar na noite desta quinta-feira (22) no Centro Universitário Farias Brito.
Em entrevista à coluna, Carla Romar destacou a importância da CLT nas últimas oito décadas, mas defende que a lei seja atualizada. "A CLT já passou, nesses 80 anos, por vários governos, por investidas políticas, por mudanças econômicas, várias alterações foram sendo feitas ao longo dos anos, tivemos a reforma trabalhista em 2017. Mas é óbvio que nenhum documento histórico atravessa 80 sem críticas e sem necessidade de reavaliação", defende.
Perita em relações trabalhistas - Organização Internacional do Trabalho (OIT), a professora destaca que as relações trabalhistas estão passando por uma nova revolução, exigindo a adaptação das leis. "É uma revolução porque mudanças estruturais em toda a sociedade, na qual o mundo do trabalho se insere, estão empurrando a nossa sociedade para um novo modelo", afirma.
"Então, consequentemente, nós precisamos de uma adaptação. O sistema de proteção criado pela CLT é um sistema de proteção importantíssimo. Ainda que não mantidos os mesmos tipos de proteção, mas a espinha da CLT, que é a ideia de um sistema de proteção ao trabalhador, à pessoa que coloca a sua mão de obra, o seu esforço, o seu trabalho à disposição de outrem, esse sistema de proteção precisa ser mantido”.
Nós estamos vivendo um momento histórico, desses grandes questionamentos sobre o que será o mundo, o que será da sociedade, e consequentemente o que será do trabalho humano"
Essa adaptação, ressalta a jurista, passa por encontrar um novo modelo de proteção social. "Aquele que coloca a sua força de trabalho a disposição de outrem era, é e continuará sendo a parte economicamente mais fraca da relação. E se nós queremos uma sociedade com a dignidade de todos preservada, com uma dignidade humana, com a preservação do ser humano, nós precisamos pensar em manter um sistema de proteção social”, reforça.
Apesar de necessária, essa adaptação exige ainda muito diálogo para que se chegue a um consenso, dada a complexidade das novas relações de trabalho. Um exemplo mais evidente é o que envolve trabalho em plataformas digitais.
"Essa dicotomia ‘vínculo de emprego’ ou ‘não vínculo de emprego’ me parece um pouco ultrapassada. O que nós precisamos é encontrar um sistema de proteção para os trabalhadores dessas plataformas", disse.
Carla Romar reconhece a dificuldade, "mas entendo que pelo diálogo social, pelo diálogo envolvendo trabalhadores, envolvendo os contratantes, envolvendo os governos, a gente consiga efetivamente chegar a um consenso de como deve ser essa proteção social.
E completa: “Talvez não no modelo de relação de emprego, de vínculo empregatício, como a gente vinha vendo até agora, mas sim uma legislação e um modelo adaptado a essa nova realidade”.
“São grandes questionamentos, o século XXI trouxe para nós e está trazendo mudanças que estamos experimentando numa velocidade estrondosa e nós precisamos realmente estar atentos à necessidade desse sistema de proteção social. Não temos um modelo certo, mas temos que buscar uma adaptação dessa legislação histórica, que é a CLT no nosso País, e nos outros países os seus modelos de proteção social e adaptá-las a essa nova realidade”, finaliza.
Aula Magna proferida por Carla Teresa Martins Romar, professora de mestrado e doutorado na PUC-SP, perita em relações trabalhistas - Organização Internacional do Trabalho (OIT)
Data: 23 de março, às 19h
Local: Teatro Nadir Saboya (Rua 8 de Setembro, 1331 - Varjota)