Relatos e fatos: o que muda no corpo da mulher após a gravidez?

Passar pelo parto já é um grande acontecimento. São marcas no corpo e emoções que precisam ser amparadas

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Legenda: Sobre as transformações do corpo, a especialista defende o planejamento antes de engravidar e no pré-natal
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Sempre me perguntam como foi a gestação. Quando falo que o meu parto foi vaginal, surgem alguns questionamentos como: doeu muito? Passou quanto tempo em trabalho de parto? Como foi a preparação? O que mudou no seu corpo depois de ser mãe? Eu entendo que esses questionamentos são parte de uma série de dúvidas que precisam ser resolvidas ou confirmadas. O desconhecido assusta, mas a falta de informação pode prejudicar nossas experiências.

Entre uma queixa e outra, surge uma discussão sobre a qualidade de vida da mulher depois de parir. São demandas relevantes que podem ser confundidas com assuntos recorrentes. A sociedade acaba normalizando uma condição que poderia ser evitada ou tratada. Passar pelo parto já é um grande acontecimento. É neste momento que o autocuidado torna-se ainda mais necessário.

Vou continuar o nosso diálogo com a médica Ginecologista e Obstetra, Caroline Heimbecker. Ela vai nos ajudar a entender os mistérios da maternidade e das vias de parto. Começo pela dúvida de tantas mulheres: a escolha da via de parto afeta a qualidade de vida?

“Parto normal ou cesáreo não vai determinar um sintoma específico. O mais importante é como essa mulher está se preparando para engravidar. Aspectos interligados como o peso ideal, idade, colágeno e tendência genética, é que podem trazer repercussões para a mulher", explica Caroline Heimbecker,  especialista em pré-natal e partos.

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Saúde da mulher

O processo da gravidez tem um impacto significativo no corpo feminino. Estamos falando de uma vida que está crescendo em um outro corpo. Perguntei sobre a queda de cabelo - uma queixa recorrente no pós-parto, e a obstetra explicou que a condição pode estar relacionada à falta de vitaminas como zinco, ferritina e b12. O estresse também pode ser um fator importante. É mais fácil culpar o tipo de parto, certo? Exames básicos podem mostrar carências significativas para a mãe.

Na preparação para engravidar e até durante a gravidez, é comum que a mulher tenha cuidados com a saúde, tomando vitaminas e fazendo acompanhamento médico. Depois do nascimento o cenário muda. São tantas tarefas e preocupações com o bebê, que a mãe continua aprendendo a carregar consequências, quando deveria se cuidar.

Grávida pode comer de tudo? Depende!

“Você está liberada para comer o que quiser e sentir bastante desejo”. Frase comum no período em que a mulher não pode passar vontade. Eu não tive essa experiência de querer muito um tipo de alimento, mas confesso que aproveitava um pouco a prioridade. Caroline reforça que uma das formas de reduzir danos futuros é controlando o ganho de peso durante a gestação. 

Engravidei no início da pandemia e mesmo com o fechamento dos estabelecimentos, tentei manter minha rotina de alimentação e exercícios físicos em casa. Eu treinava Crossfit na época e continuei minha rotina com uma orientação mais específica por conta da gravidez. Esse movimento foi bem natural para o estilo de vida que eu já tinha antes da gestação. O mais significativo nessa experiência de se cuidar e conseguir controlar o peso, é a qualidade de vida que você ganha durante a gestação e no pós, que considero ainda mais importante. 

mulher com diástase
Legenda: Desafios não se limitam à estética, mas dizem muito sobre saúde e autoestima
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Diástase

Sobre as transformações do corpo, Caroline defende o planejamento antes de engravidar e no pré-natal. É nesse período que o profissional pode avaliar com a paciente questões genéticas e individualidades. 

“Dependendo do peso da mulher, aumentar no máximo um quilo por mês é mais saudável. Quando ela não tem uma boa alimentação, existe o risco de desenvolver a diabetes gestacional. Com o líquido amniótico aumentado, excesso de gordura e tamanho do bebê, a parede abdominal vai ser cada vez mais pressionada e vai aumentar a distância dos músculos reto abdominais, a chamada diástase", cita Caroline Heimbecker.

O exercício de olhar para o espelho e avaliar o que se vê é mais desafiador depois de uma gravidez. Não é simples reconhecer as marcas físicas que precisamos carregar ao longo da vida. Cada mulher deveria receber o apoio necessário para lidar com essas questões, que não se limitam à estética, mas que dizem muito sobre saúde e autoestima.

Preparo físico e mental

Estou aqui refletindo sobre as minhas escolhas ao longo dessa jornada e já consigo identificar vários momentos que eu deixei de olhar para mim. Todos nós temos demandas que precisam ser ouvidas. Não é normal ter incontinência urinária, dores recorrentes na lombar ou até problemas dentários. Caroline Heimbeker lembra que com o avanço da idade, a mulher vai precisar de mais cuidado. 

“Será que tudo surgiu depois que ela teve um filho ou é o processo natural da vida que demanda mais cuidados? Tem mulher com 45 anos já entrando na menopausa e a reposição hormonal precisa ser avaliada. É possível que essa mãe esteja negligenciando sua saúde”, alerta a médica.

A especialista recomenda que a mulher faça uma avaliação do seu estado de saúde incluindo o exame das mamas e todas as taxas. Todas as queixas devem ser tratadas antes e depois da gravidez. Precauções como suplementação de vitaminas, vacinação, alimentação balanceada e exercícios físicos são fundamentais. A prevenção é a recomendação mais eficaz da Medicina.

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