Introdução alimentar – um lar de memórias afetivas

Entre experiências compartilhadas, a alimentação se destaca como evolução e qualidade de vida para os pequenos

Legenda: Como uma cearense raiz, Beatrice nunca dispensa um cuscuz com ovo
Foto: Arquivo pessoal

“Mamãe! Quero frutinha” Essa é a frase da minha filha após terminar uma refeição. É um pedido bem comum por aqui, mas confesso que sempre fico emocionada. Lembro dos tempos de ansiedade e desespero com a chegada da introdução alimentar. Essa etapa da maternidade demanda conhecimento, criatividade, apoio profissional e muita paciência.

“Introdução alimentar é o termo usado para designar a fase em que a alimentação dos bebês começa a incorporar outros alimentos além do leite materno. Ela deve ser iniciada no sexto mês de vida, conforme recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde”.

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Minha estratégia foi ser simples e consistente. O objetivo era que a Beatrice tivesse a melhor relação possível com uma grande variedade de alimentos saudáveis. Era uma cadeira de alimentação e um sonho. Como a rotina alimentar saudável já fazia parte do meu dia a dia, fluiu como esperado.

 

Desafio: Filtrar informações

Em um universo de experiências compartilhadas por gerações, ainda temos a ampliação do tema no ambiente virtual. Receitas, métodos e estilos ganham destaque e defensores. Eu ouvia de tudo e ficava sempre na dúvida: Qual a forma correta de oferecer os alimentos? Como deve ser a diversidade e quantidade? Dúvidas que a nutricionista materno infantil, Juliana Araújo, escuta todos os dias.

“Nossa geração é a primeira que estuda para ser mãe. No tempo dos nossos pais, avós, tias e vizinhas tinham um peso nas recomendações. Hoje, a rede social ganhou impacto superior na decisão, porque essas mães estão mais informadas. A fala de uma especialista acaba trazendo mais peso para a decisão dessas mulheres.”
Juliana Araújo
Nutricionista

O ambiente virtual é tão carregado de informações e métodos de introdução alimentar, que facilmente confunde o planejamento da família. Eu tinha até receio de perder algum sinal de prontidão da minha filha, de tanta ansiedade por iniciar a aventura da apresentação dos alimentos. Juliana reforça que essa fase inicial pode definir o relacionamento do bebê com os alimentos.

Descasque mais, desembrulhe menos

O tempo passa rápido, mas enquanto mãe, cada fase foi intensa e diversa nas abordagens. Na prática, muita coisa muda e você vai tentando fazer o melhor que pode, não dá para fugir da nossa realidade. O olhar materno ocupa presente e futuro, a gente sempre tenta visualizar o todo. O bebê vai se tornar criança, adolescente e logo vai assumir a fase adulta. No fundo, nosso desejo é garantir um futuro saudável para os nossos filhos.

Legenda: Uma cadeira de alimentação, um prato colorido e um sonho: Beatrice no início da introdução alimentar
Foto: Arquivo pessoal
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“Um bebê pequeno é uma folha em branco. Tudo o que escrevemos terá um efeito positivo ou negativo no futuro. E quando a gente pensa em alimentação, o comer é a segunda atividade que essa criança mais faz. O destaque precisa ser para alimentos com composições mais naturais. Se eu ofereço alimentos protetores nessa fase inicial, estou moldando uma programação metabólica positiva e estou contribuindo para a prevenção de doenças crônicas na vida adulta”
Juliana Araújo
Nutricionista

No dia a dia da rotina alimentar, eu descobri que o planejamento era essencial para o processo. Se eu não tivesse uma organização com métodos, alimentos, congelamentos e receitas, a experiência teria sido bem mais difícil. Foquei nas orientações profissionais e me coloquei como parte desse momento. Eu olhava para a minha filha e pensava no ambiente mais favorável para criar uma memória afetiva, nutritiva, divertida e saborosa.

“É hora do bebê começar a comer”

Com uma rotina apertada, muitas famílias não se adaptam à grande variedade de receitas e maneiras de oferecer os alimentos. É o almoço com muitas cores, a lancheira da escola com o bolinho de banana e as frutas em formatos diversos. Não consigo fazer todas as receitas que estão disponíveis nas plataformas digitais, mas tento - do meu jeito - imprimir a minha linguagem do amor em cada refeição preparada.

“Muitas famílias chegam no consultório pedindo um alimento pronto para pegar da prateleira do mercado e colocar direto na lancheira. Pensando em números, uma criança faz mais de 700 lanches em um único ano. A indústria acaba se aproveitando dessa necessidade e oferta produtos que levantam a bandeira do saudável, mas quando analisamos a tabela nutricional, encontramos uma opção industrializada e nada nutritiva.”


O olhar profissional da Juliana foi para além do consultório. Nasceu em formato de livro, um passo a passo todo ilustrado para iniciar a introdução alimentar.

Legenda: Livro “É hora do bebê começar a comer” – métodos, utensílios e o passo a passo para uma introdução alimentar sem traumas
Foto: Divulgação

“Eu tive a necessidade de produzir um livro de introdução alimentar para aquelas mães que muitas vezes não conseguem chegar a um nutricionista especialista. O objetivo é tranquilizar e mostrar que não é tão difícil assim. É um momento tão formador do paladar desse bebê, que a gente não pode fazer de qualquer jeito. Eu respondo dúvidas sobre métodos, congelamento, preparação dos alimentos, falo sobre possíveis intercorrências como alergia, intestino e sono. É uma experiência que qualquer pessoa que precisa iniciar a introdução alimentar de um bebê vai conseguir fazer", conta a especialista em introdução alimentar. 

Dicas para descomplicar a introdução alimentar

  •  A família precisa respeitar o limite do bebê, ele tem direito de não aceitar absolutamente nada. Tem direito de querer só fruta ou só comidinha de almoço e jantar.
  •  Distrair a criança com telas para que ela consuma determinado alimento, não é uma opção. Se naquele momento a criança não está aceitando o alimento, é preciso ter paciência.
  •  Foque em oferecer alimentos naturais em sua individualidade. De preferência às opções da estação, porque eles vão ser mais baratos, saborosos e frescos. A qualidade nutricional é superior.
  •  Escolha um ambiente tranquilo e evite distrações. Procure lugares mais agradáveis, sem tantos barulhos, o alimento precisa ser o maior destaque para a criança.
  •  Comer com o bebê pode estimular a aceitação. Nessa fase de introdução alimentar, a criança conhece o mundo através da boca. Tudo o que fazemos com a boca gera interesse para os pequenos.
  •  A criança não deve ir para a cadeira de alimentação com sono ou irritação, a chance de aceitação é muito pequena.
  •  Incentive a autonomia do bebê, permitindo que ele se alimente com as próprias mãos e explore os alimentos. Para garantir a segurança do pequeno, faça cortes seguros nos alimentos.
  •  Nessa fase inicial, o objetivo nem deve ser que eles comam, o importante é criar memórias e associações positivas com essa nova atividade.

Uma família toda engajada na alimentação da criança

Legenda: Não tem brownie que fique na frente dessa panqueca de banana com cacau da mamãe
Foto: Arquivo pessoal

O caminho foi longo e diariamente construído com muito amor e dedicação. Além do meu colo materno, tive a parceria do meu marido – sempre muito paciente – e da minha mãe - a vovó mais babona e dedicada. Todos os dias acordo mais cedo para fazer a lancheira da minha pequena. Preparo algumas receitas no dia anterior e já deixo a programação pré-definida para não perder tempo. Depois, eu me organizo e saio para mais uma jornada de trabalho.

Sei que esse lar de memórias afetivas vai acompanhar a Beatrice em todas as fases que estão por vir.

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