Vestindo a alma: a moda como manifesto na Arte

Ao longo do tempo, a moda não aconteceu como um fenômeno universal, suas transformações se relacionam aos usos e costumes do seu tempo, e isso fica muito claro quando falamos da roupa do artista

Escrito por
Elaine Quinderé verso@svm.com.br
Legenda: David Bowie foi um dos tantos que souberam usar a moda para transmitir mensagens poderosas e indissociáveis de suas obras
Foto: Divulgação

A roupa sempre foi uma extensão poderosa da arte, especialmente para os artistas que, ao longo das décadas, entenderam que o visual não é apenas um acessório, mas uma forma de comunicação direta com o público.

Tenho pensado muito sobre esse tema desde que escrevi sobre a Fernanda Torres e seus looks de divulgação do filme “Ainda Estou Aqui”. Fiquei pensativa sobre a “roupa do artista” e como ela é uma ferramenta poderosa para reforçar identidades, desafiar normas e reforçar mensagens.

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Não tem como falar desse assunto, sem começar por ele: David Bowie. Ele que é, talvez, o maior ícone de transformação estética da música, foi pioneiro em fazer da roupa parte fundamental de sua arte. Ao longo da sua carreira, Bowie se reinventou constantemente, e seus figurinos e personagens, refletiam suas múltiplas facetas criativas.

As roupas dele não eram apenas roupas, eram declarações sobre a fluidez da identidade e o poder da performatividade. Cada novo look era uma forma de se comunicar com o público, criando um link forte entre os fãs ou um grande abismo para quem não concordava com a sua performance.

Legenda: Bowie foi pioneiro em fazer da roupa parte fundamental da própria arte
Foto: Divulgação

Quando falei da Fernanda Torres, dialoguei com a roupa como uma extensão de uma história real, vestida por uma pessoa real, que também é uma roupa de trabalho. Não era uma fantasia, não era uma muralha, mas e quando a roupa tem a intenção de ser justamente isso?

Mais recentemente, a cantora americana Chappell Roan vem se destacando não só por sua música, mas por sua forma única de se vestir. Com um estilo que mistura o glamour dos anos 70, o trash chic e a subversão do gênero, Chappell utiliza a moda para reforçar sua mensagem de liberdade.

Legenda: Cantora americana Chappell Roan vem se destacando não só pela música, mas devido à forma única de se vestir
Foto: Divulgação

Seus figurinos, sempre teatrais e ousados, são um reflexo de sua identidade queer, sempre inspirados na cultura drag - uma das mais subversivas, na minha opinião. Não existe nada mais performático que o gênero.

E em sua estética, Chappell Roan usa as roupas como uma forma de reafirmar a luta por representatividade e pela expressão individual sem medo de julgamentos, com um olhar sempre voltado para a beleza do não convencional.

Legenda: Chappell Roan usa roupas como forma de reafirmar a luta por representatividade
Foto: Divulgação

A roupa, para esses e muitos outros artistas, nunca foi apenas uma forma de se apresentar ao público, mas um meio de expressão artística e uma declaração de sua identidade. Bowie, Stevie Nicks, Madonna, Elton John, Lady Gaga, Secos e Molhados, Pabllo Vittar, Grace Jones e tantos outros souberam usar a moda para transmitir mensagens poderosas e indissociáveis de suas obras.

Em cada look montado, eles não apenas refletiam sua arte, mas também ajudavam a redefinir o que significava ser um ícone cultural e político, permitindo que todos à margem pudessem se sentir parte dessa expressão única e eterna.

 

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor

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