O verdadeiro estilo pessoal é um acervo vivo
As roupas que contam a nossa história são feitas de lembranças, desejos e coragem para ser quem se é.
Ninguém nasce com estilo, mas a gente nasce com histórias, e é delas que o nosso estilo pessoal se alimenta. A roupa que escolhemos de manhã é menos sobre o tecido, sobre o modelo da peça e muito mais sobre o repertório que carregamos: o que vimos, o que vivemos, o que admiramos, o que rejeitamos.
Nosso armário é um espelho do nosso inconsciente. Cada peça que adquirimos (ou ganhamos e herdamos) conta um capítulo do que aprendemos a achar bonito, do que queremos esconder ou do que tivemos coragem de mostrar.
A jaqueta herdada, o batom vermelho da adolescência, o jeito de arregaçar a manga… Tudo é arquivo. E todo arquivo revela o que valorizamos e o que escolhemos narrar sobre nós mesmos.
Há quem acredite que estilo se copia, que basta seguir tendências ou influenciadores. Já sabemos que não é (só) por aí. O verdadeiro estilo nasce de dentro pra fora e só floresce quando o repertório é vivo. E repertório não é coleção de imagens salvas no Pinterest: é bagagem emocional, cultural, afetiva.
É observar o mundo com curiosidade, prestar atenção nas pessoas, nos gestos, nos detalhes. É se permitir viver coisas novas e, depois, decidir o que fica e o que não faz sentido.
Veja também
Parte desse repertório é herdada: a estética da família, a cidade onde crescemos, as músicas que embalaram nossa juventude. Outra parte é construída e depende da nossa coragem.
Coragem de experimentar cortes diferentes de cabelo, de misturar texturas, de sair do neutro, de usar o que faz sentido e não apenas o que está “em alta”.
Quando o estilo amadurece, ele começa a contar nossa história com uma sinceridade impossível de falsificar. Roupas, acessórios, maquiagem, cabelo… tudo passa a ser linguagem e a moda deixa de ser sobre agradar o olhar alheio para se tornar uma forma de pensar, um discurso visual sobre quem somos hoje.
Ter/criar um estilo, portanto, é um exercício de autoconhecimento somado à construção contínua de repertório. É entender o que do mundo faz sentido pra gente e, ao contrário do que muitos pensam, estilo não se compra, se cultiva.
Quanto mais olhamos para dentro e ao redor com atenção, mais clara fica a nossa narrativa visual. E é nesse ponto que a moda deixa de ser tendência e vira identidade.
* Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora