Para quem leu minha coluna da semana passada, viu que eu me divido entre os textos que são publicados aqui e a consultoria de estilo, para a qual migrei em 2018.
Ter me tornado consultora de estilo não foi a realização de um sonho, mas foi a realização de um projeto muito maior: me redescobrir. Entrar em contato com uma área que sempre me brilhava os olhos, saber que o que eu faço pode chegar de forma tão viva na vida de alguém e de que eu, enfim, poderia ser esse caminho de mudança. E tenho sido, em tantas esferas.
O discurso da diversidade estava ganhando força quando eu comecei nessa área. Na inocência dos meus 20 e muitos anos, achei que iria encontrar um campo aberto e fértil, mas encontrei um solo árido e cheio de olhares desconfiados.
O esforço em contemplar a diversidade de corpos teve seus minutos de fama, mas sempre com aquele véu bonito para disfarçar a grande verdade: mulheres gordas, sejam elas referências de beleza, estilo e carreira, só são realmente válidas até determinado ponto.
Não serei discreta enquanto mulher gorda e nordestina trabalhando com moda. Ainda que Fortaleza não seja um polo como São Paulo, a modéstia não me cabe.
Foi incrível aparecer uma consultora de estilo gorda e nordestina, disposta a falar com esse público e a brigar por ele. A área precisava desse frescor, até entenderem o constrangimento que isso causava.
É muito bom ver pela internet o discurso de que moda é um modo de afirmar a sua individualidade, enquanto a minha área ainda está presa nessa rede absurda de regras e amarras que mitigam aos poucos essa dita individualidade.
Acessar lugares com o meu corpo e o meu sotaque causou, mais uma vez, essa estranheza a qual estou tão habituada. Gerou questionamentos sobre o meu saber. Invalidou a minha capacidade.
Tem um evento que acontece com toda pessoa gorda que apelidei carinhosamente de "furto da subjetividade": tiram das nossas mãos toda responsabilidade simplesmente por não sermos "capazes" de cuidar do nosso próprio corpo.
É assim que eu me senti (e tenho certeza de que não sou a única) ao começar a trabalhar e colocar minha cara no sol, questionando o fazer consultoria de moda tradicional e propondo novas formas de pensar o corpo gordo.
A gordofobia com profissionais gordas já começa no momento que se entende o meu lugar como inabitável, como se "eu" fosse a única pessoa que pudesse entender desse espaço e falar por ele - sabe o tal do lugar de fala? Pois é.
Já se pressupõe uma ideia de superioridade, mas a quem serve (ou ao quê) serve essa ideia?
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora
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