Crescem as evidências de que está vindo aí mais um El Niño, o fenômeno que surge do aquecimento das águas do Oceano Pacífico em sua parte equatorial e do esfriamento das águas do Oceano Atlântico.
Na semana passada, grandes jornais europeus, como o britânico The Guardian, de Londres, publicaram longas matérias com especialistas no estudo do clima, e todos alertaram para “a gravidade” do novo El Niño, que poderá ter consequência catastrófica, principalmente nos países localizados na linha do Equador – e o Brasil é um deles.
De acordo com a previsão desses especialistas, até a Amazônia será afetada pelo fenômeno: nessa região, haverá uma prolongada estiagem que poderá reduzir bastante o nível das águas dos seus rios, como o Amazonas, o Madeira, o Negro e o Tocantins.
Essa estiagem, de acordo ainda com as análises das últimas fotos dos satélites que monitoram o clima no mundo todo, alcançará o Nordeste brasileiro.
No Sul, porém, os efeitos do El Niño serão opostos, mas graves: lá haverá fortes chuvas que provocarão inundações, o que também acontecerá, mais intensamente ainda, na Argentina, hoje sob uma seca que reduziu à metade a produção de sua agricultura – os portenhos são grandes produtores e exportadores de soja, algodão, trigo e milho.
Aqui no Ceará, a aproximação do El Niño preocupa a cúpula da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec).
O seu presidente, Amílcar Silveira, disse ontem a esta coluna que “a ciência já praticamente confirmou que teremos um El Niño a partir do segundo semestre deste ano, com a possibilidade de o fenômeno chegar aqui antes disso”.
Assim – Silveira acrescenta – será sensato e de bom alvitre que o governo do estado, em parceria com o setor produtivo e com os organismos que tratam da gestão dos recursos hídricos e da meteorologia (a SRH, a Cogerh e a Funceme), tome providências antecipadas para prevenir-se contra os efeitos que uma nova e prolongada estiagem causará à economia e à população do Ceará.
Há disponível aqui inteligência da melhor qualidade para a elaboração de um planejamento estratégico com o objetivo de obter a melhor administração das águas hoje represadas pelos grandes, médios e pequenos açudes do estado.
O que há represado hoje é pouco para as necessidades da população humana e animal e para o atendimento da indústria e da agropecuária. Em condições normais, as reservas hídricas de hoje, no Ceará, seriam suficientes para um ano e meio de necessidades rurais e citadinas, incluídas as da RMF. Mas, com a possibilidade de uma seca já admitida pela ciência, o cenário por vir desenha-se completamente diferente.
Urge, então, como sugere o presidente da Faec, a criação de um Grupo de Trabalho com o exclusivo objetivo de elaborar uma cartilha do que fazer, como fazer, onde fazer e quando fazer para a antecipação de medidas de enfrentamento de mais um El Niño, que desta vez, de acordo com o que prevê a ciência, terá uma capacidade maior de destruição.