Um homem, Waldonys, embalou 1 mil mulheres do agro na Pecnordeste

O grande sanfoneiro cearense tornou poético e romântico o momento de encerramento do evento que debateu a importância da mulher na política, com a presença de 3 senadoras e 2 deputadas

Legenda: Waldonys, sua sanfona e sua música alegraram as 1 Mil Mulheres do Agro, no encerramento da Pecnordeste 2024
Foto: Egídio Serpa

Eram esperadas 1 mil “Mulheres do Agro” para o último item da programação da Pecnordeste 2024 – maior feira indoor da agropecuária brasileira, realizada no Centro de Eventos do Ceará de quinta-feira a sábado passados. Mas compareceram 1.100, todas de chapéu feito de juta australiana pela Chapebraz, uma indústria da cidade paranaense de Marialva, doados pelo Banco do Nordeste, e uma sacola de tecido índigo confeccionada e oferecida pela Santana Textiles, de Raimundo Delfino, dentro da qual havia um kit de biscoitos e massas como brinde de M. Dias Branco, cujo CEO, Ivens Dias Branco Júnior, é um entusiasta do novo agro cearense. 

“Mas na Pecnordeste de 2025 teremos aqui 2 mil ‘Mulheres do Agro’, como prometeu, falando de cima do palco principal do evento, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), Amílcar Silveira, sob os aplausos de um auditório quase 100% feminino. 

O “Encontro das Mulheres do Agro” versão 2024 (na Pecnordeste do ano passado, o evento reuniu 500 mulheres) foi convocado para debater sobre a importância da mulher na política, mas antes que o debate começasse, ele foi corretamente aquecido pela música, o que animou o já muito animado auditório principal da Pecnordeste.

Primeiro, exibiu-se um maravilhoso conjunto da “Tapera das Artes”, um centro de excelência voltado para o esforço de inclusão de crianças e jovens de famílias carentes residentes em áreas pobres da Região Metropolitana de Fortaleza.
 
Um exímio clarinetista puxou a entrada do conjunto, que subiu ao palco com um violino bem afinado para produzir as notas de uma rabeca, um tecladista vocacionado para a bela arte de tocar piano, uma sanfona digna da musicalidade do grupo, um zabumba afinadíssimo e uma bateria manuseada por uma jovem que, à perfeição e com discrição, fez tudo o que foi exigido dela.

Deu gosto ver e ouvir esse quinteto musical, que soube alegrar ainda mais as mulheres presentes e a encaminhar a programação para outra grande atração da festa de finalização da Pecnordeste: Waldonys.

Esse afilhado de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, é um gênio. Aos 11 anos, ganhou de Gonzagão uma sanfona, com a qual aprimorou e aprofundou seu talento. Tudo se passou muito rápido na sua carreira profissional. Tornou-se amigo de Dominguinhos, que, quando vinha a Fortaleza, nos anos 70 e 80, se hospedava na casa deste colunista e na do pai de Waldonys, Eurides Torres de Menezes. Por osmose, Waldonys apropriou-se de toda a genialidade de Dominguinhos – José Domingos de Morais, um pernambucano de Garanhuns, precocemente falecido em 2013.

Quando Waldonys e sua bela sanfona subiram, às 16 horas de sábado, ao palco da Pecnordeste, as 1.100 “Mulheres do Agro” que superlotavam o espaço, deram-lhe acolhida de um popstar – aplausos demorados e gritos frenéticos de tietes. 

Bem à frente do palco, juntou-se um batalhão ardoroso de fãs, que, armadas de celulares, empurrando-se mutuamente em busca do melhor ângulo, gravaram em vídeo a voz e o som do ídolo, cujo rosto é de um menino bem jovem, alegre, inteligente, culto, simpático e solícito.

“Boa noite, minhas queridas amigas ‘Mulheres do Agro’”, disse ele, recebendo como resposta tonitruante a mesma saudação. Daí em diante, Waldonys portou-se como um comande de avião (ele é aviador acrobático e membro honorário da Esquadrilha da Fumça da FAB): mostrou o melhor de sua arte, que ultrapassa a incrível habilidade com que extrai do seu instrumento tudo o que ele pode dar, pintou com poesia o ambiente feminino, atiçando o lado romântico da muito atenta e irrequieta plateia.

Citou versos de Victor Hugo e Ariano Suassuna, todos de louvor à beleza e às virtudes da mulher. Depois declamou um poema cordelístico que aborda – com rimas perfeitas – a anatomia feminina, citando os dois principais relevos do corpo feminino, fazendo rir toda a multidão de mulheres presente. 

E cantou, em seguida, músicas que mexem com o sentimento de amor da mulher. Entre elas, “Sinônimos”, de Zé Ramalho.

Para finalizar ele sugeriu: “Eu vou sair devagarinho, vou descer as escadas do palco e quando eu estiver lá embaixo, vocês pedem: mais uma, mais uma”. Aí eu voltarei e tocarei mais uma, ok”. 
E tudo se passou como ele havia sugerido. Quando Waldonys retornou ao centro do palco, tal e qual um mordaz Dominguinhos, ele disse:

“O que me surpreende e me alegra é essa espontaneidade de vocês!” O auditório veio abaixo com gargalhadas e fortes aplausos. Waldonys, que é garoto propaganda da Tijuca Alimentos, que ofereceu o show às Mulheres do Agro, despediu-se e correu, literalmente, para embarcar na caminhonete que o levaria ao São João de Maracanaú, onde faria um novo show. 

Waldonys saiu, mas em seu lugar entraram as senadoras cearenses Janaína Farias e Augusta Brito e a piauiense Jussara Lima, além das deputadas estaduais Gabriella Aguiar e Jô Farias, que sob a mediação de Joana Cruz, falaram da importância da presença da mulher na política nacional.

A senadora piauiense lembrou que, na Câmara dos Deputado, há 513 parlamentares, mas só 90 são mulheres; no Senado, das 81 cadeiras, apenas 15 são ocupadas por mulheres. Jussara foi além e disse que uma pesquisa recente apurou que nos organismos públicos administrados pelas mulheres os casos de corrupção são reduzidos. É verdade.

As mulheres são hoje 52% da população brasileira, mas só 18% delas estão na atividade política. É muito pouco, levando-se em conta a capacidade que tem a mulher de dirigir bem empresas públicas e privadas e de comandar pessoas. No Brasil – pesquisas o comprovaram – há mais mulheres completando o ensino do que homens, e este é um dado revelador do que está por vir, no curto prazo, em relação à presença feminina. 
Esta coluna pode terminar com uma advertência: homens do agro, cuidem-se, que as mulheres estão chegando. 

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