Ontem foi a super quarta-feira e tudo aconteceu como o mercado estava prevendo: nos Estados Unidos, o Federal Reserve aumentou em 0,25% a taxa de juros da economia norte-americana; aqui no Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, manteve inalterada a taxa básica de juros Selic, que pelos próximos 45 dias seguirá no patamar de 13,75% ao ano, onde se encontra desde agosto do ano passado.
Os nove integrantes do Copom tomaram a decisão de forma unânime. No comunicado divulgado logo após a reunião, o Copom afirma que a atual conjuntura exige paciência e serenidade na administração da política monetária.
O comunicado assinala, textualmente: ““O Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.
Parece um recado endereçado ao governo, que durante os últimos 45 dias pressionou a autoridade monetária no sentido de reduzir a taxa de juros. O presidente Lula e seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad manifestaram-se contra a alta dos juros, fazendo críticas diretas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que, nas palavras do Chefe da Nação, “não foi eleito pelo povo”.
O comunicado do Banco Central manda um recado direto ao governo. Depois de dizer que o novo arcabouço fiscal reduz parte da incerteza em relação política fiscal e não se relaciona à convergência da inflação às suas metas, o texto diz o seguinte:
“O Copom enfatiza que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, e avalia que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional.”
E para não deixar dúvidas, o comunicado afirma:
“A inflação ao consumidor, assim como suas diversas medidas de inflação subjacente, segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação”.
E acrescenta:
“Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação”.
E diz mais o comunicado do Copom:
“Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; a incerteza ainda presente sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco’.
Os analistas entenderam que o comunicado do Copom deu forte sinal de que a taxa de juros Selic ainda será mantida na próxima reunião do Copom, que se realizará dentro de 45 dias. O governo, pela voz do seu ministro da Fazenda ou pela do próprio presidente da República, deve manifestar-se hoje sobre a decisão do Copom, esperando-se mais duras críticas ao Banco Central e ao seu presidente.
Ontem, aliás, não foi um dia bom para o governo, que sofreu uma derrota na Câmara dos Deputados, que aprovou Projeto de Decreto Legislativo que derrubou decreto do Executivo que alterava alguns trechos do marco regulatório do saneamento básico. Esse projeto seguirá agora para apreciação do Senado, mas a decisão dos deputados federais revela a dificuldade que o governo está tendo de organizar uma maioria.
A decisão da Câmara dos Deputados pode ter repercussão no pregão de hoje da Bolsa de Valores B3, que ontem fechou em queda leve, enquanto o dólar encerrou o dia cotado a menos de R$ 5, exatamente a R$ 4,99.