Ampliou-se, de ontem para hoje, o debate em torno da necessidade de o Governo do Ceará, em parceria com a iniciativa privada, emprestar mais atenção ao setor da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), que, segundo opinião de empresários que atuam na área, caminha à deriva, ou seja, distante dos objetivos da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece).
Tendo levantado a questão, esta coluna recebeu, ao longo do dia de ontem, opiniões e comentários de leitores, de empresários e profissionais da TIC, para os quais falta, por exemplo, um banco oficial de dados acerca do que já existe no setor.
O secretário do Desenvolvimento Econômico, Salmito Filho, transmitiu mensagem, afirmando que o Plano Estratégico de sua pasta contempla o setor da Tecnologia e Inovação.
Entre as outras opiniões que a coluna recebeu, está a de um ex-alto funcionário da Empresa de Tecnologia de Informação do Ceará (Etice), que, pedindo o anonimato, transmitiu a seguinte mensagem, cuja íntegra está vasada nos seguintes termos:
“Cenário atual:
“1. Faltam lideranças, com conhecimento de TIC e visão estratégica deste segmento, nos órgãos do governo. Basta analisar o quadro atual da Etice para ter o retrato disso. Basta analisar as experiências, formações, relacionamentos com o mercado das lideranças atuais da empresa que deveria conduzir o processo de transformação digital no governo;
“2. Falta conhecimento do mercado de TIC dentro do governo. TIC é o maior segmento econômico emergente do mundo. Vide as maiores empresas globais, como: Amazon, Microsoft, Google, Apple etc.
“Tínhamos tudo para fortalecer nosso ecossistema envolvendo esses grandes players. Temos um hub de comunicação de dados global em Fortaleza. As maiores empresas de telecomunicações do mundo têm suas landstations na Praia do Futuro.
“Temos uma excelente infraestrutura interna de comunicação de dados no Estado.
“Já conseguimos gerar uma certa atenção de grandes provedores de serviços em nuvem e datacenters, mas...ainda é muito pouco.
“O conhecimento das expectativas deste segmento, em termos locais, nacionais e globais, é fundamental para desenvolvermos nosso Estado e fomentarmos o crescimento econômico através de empresas com base tecnológica;
“3. Faltam políticas públicas voltadas para a atração de grandes empresas de TIC, visando gerar massa crítica e fortalecer a cadeia de fornecedores e parceiros locais.
“É importante aqui termos foco e levarmos em conta nossas vocações e diferenciais competitivos para apontarmos para as direções corretas. Não conseguimos ser bons e atrair tudo. Vamos buscar desenvolver aquilo que já está em nosso DNA e no qual temos diferenciais;
“4. Faltam políticas públicas voltadas ao fortalecimento de empresas locais.
“Não basta atrair grandes empresas globais. Temos que ter políticas públicas que auxiliem nossas empresas a se fortalecerem e se tornarem também globais;
“5. Falta a utilização do marco legal das startups para fomentar o crescimento do segmento de TIC no Estado do Ceará, visando o desenvolvimento de startups.
“Esta é uma diretriz importante, que é utilizada nos países que estão investindo massivamente no segmento de TIC: EUA, Índia, Portugal, Holanda, entre outros.
“Quem sabe se, assim, daqui a algum tempo, conseguiremos o nosso primeiro unicórnio;
“6. Falta a construção e a execução de um planejamento estratégico mais amplo, que seja construído a várias mãos, envolvendo governo, setor privado/empresas, academia e sociedade civil. Esse plano deve ser uma obra viva e dinâmica, com a participação dos agentes envolvidos.
Além do planejamento é fundamental se estruturar como executar, ter um processo de governança forte, ter orçamento, ter acompanhamento dos KPIs etc.”