Tarifaço encobre o INSS, o rombo fiscal e a corrupção nos 3 poderes

Estão soltos os que desviaram dinheiro do INSS; as emendas parlamentares viraram caso de polícia e supersalários de juízes e magistrados assustam o brasileiro

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 08:21)
Legenda: As emendas parlamentares viraram um caso de polícia, tantas são os desvios dos seus recursos para uso político
Foto: Agência Câmara
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Surfando, com a habilidade de Gabriel Medina, a onda da defesa da soberania nacional confrontada pelo tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o presidente Lula ganha as manchetes da mídia local e mundial, reduz seus índices de impopularidade, une-se à China, à Índia e à Rússia no enfrentamento da nova barreira comercial norte-americana e, inteligentemente, tira do foco os graves problemas nacionais, a começar pelo rombo fiscal que se amplia, e manda para o lixo do esquecimento o escândalo do INSS, surrupiado em R$ 6 bilhões por uma quadrilha de organizações sindicais e espertalhões da política infiltrados na estrutura administrativa da Previdência Social. 

Ontem, na hora do almoço, saboreando num Buteco da Tibúrcio Cavalcante uma maravilhosa porção de torresmo acompanhada de cerveja geladíssima, este colunista ouviu, e anotou, as opiniões de dois industriais, nenhum deles castigado pela tarifa americana de 50%, mas ambos profundamente preocupados com o futuro de seus colegas cearenses dos setores de calçados, pescados, frutas e cera de carnaúba, cujo futuro é, da perspectiva de hoje, muito sombrio.  

Eles deixaram de lado o que consideram ser “a rota de fuga de Lula”, ou seja, o abandono das questões internas – a fiscal em primeiro lugar – e elegeram o tarifaço de Trump como a oportuna e bem-vinda narrativa para este momento particular da gestão petista. Do ponto de vista psicossocial, ao peitar Donald Trump e sua absurda política tarifária imposta ao Brasil, Lula tomou para si a bandeira da reação nacional e, por meio de discursos ensaiados e pronunciados sob a emoção de um povo ultrajado, vem recebendo, com ampla cobertura da imprensa, o natural aplauso popular. 

Corte para o que interessa a quem produz e trabalha em todos os ramos da atividade econômica neste país. Ao tarifaço de Trump, reagem as entidades empresariais e as pessoas que as dirigem. A CNI anuncia para os próximos dias a contratação de um escritório de lobby nos EUA para pressionar a Casa Branca a rever as tarifas que estão a castigar os aviões da Embraer, as carnes da pecuária de corte, o café, a soja, o algodão e o aço. São negócios que envolvem bilhões de dólares em exportação daqui para lá e que empregam algumas centenas de milhares de pessoas em todo o país.  

Nesta semana, o presidente Lula e seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciarão um plano de emergência -- sim, esta é uma emergência, como o foi a pandemia da Covid-19 – que liberará créditos tributários retidos para empresas exportadoras apenadas e garantirá subsídio para os trabalhadores ameaçados de demissão, tudo assemelhado ao que aconteceu em 2020 sob a gestão de Jair Bolsonaro.  

Consequência: o governo terá de gastar mais, e para isto buscará financiamento, o que elevará a dívida pública e seu custo de carregamento (por enquanto, a previsão é de que este ano de 2025 fechará com R$ 1 trilhão só de juros, sem contar esta emergência tarifária, e quem o diz é o vice-líder do governo, deputado Mauro Benevides Filho). Os economistas já consideram 2026 e 2027 como anos de caos nas contas públicas.  

Eis aí o lado fiscal. Há, também, o lado monetário: os juros estão nas alturas e por causa deles as empresas evitam financiamento bancário e, naturalmente postergam investimentos. Por sua vez, a atividade dá sinais de declínio, embora a taxa de desemprego esteja em patamar baixíssimo, mas sustentada pelos programas sociais do governo, como o Bolsa Família. Esses programas têm porta de entrada, mas não tem a de saída, o que perpetua o ócio remunerado. 

Agora, vem o lado triste: o da corrupção que atinge os três poderes da República. Além do escândalo do INSS, há o das emendas parlamentares e o dos supersalários de juízes e magistrados sobre os quais a mídia publica manchetes diárias, e tudo prossegue como se tudo fosse normal e legal, mas não é.  

No caso do rombo (a palavra correta é roubo) da Previdência, o governo usa agora o dinheiro das próprias vítimas, os aposentados e pensionistas, para ressarci-los do prejuízo causado pela quadrilha que, desde 2016, se instalara e vinha operando na estrutura da seguridade social. Os autores desse crime seguem livres, fora do alcance da PF e dos tribunais superiores.