Tem sorte o Ceará! Acompanhem esta informação e o comentário a seguir.
Quando decidiu pela compra da usina siderúrgica do Pecém, que até o primeiro semestre de 2022, pertencia à brasileira Vale (50%) e às coreanas Dongkuk Steel (25%) e Posco (25%), o grupo ArcellorMital, com sede em Luxemburgo, mas controlado por capitais indianos, enxergou, do ponto de vista estratégico, alguns detalhes importantíssimos.
Primeiro, a ação do governo cearense, que em parceria com a Federação das Indústrias (Fiec) e a Universidade Federal do Ceará (UFC), laçou um projeto de implantar no Pecém um Hub para a produção de Hidrogênio Verde.
Segundo: alegrou-se com a rápida resposta de empresas estrangeiras e nacionais que celebraram com o governo cearense mais de 30 Memorandos de Entendimento (MOUs) com o objetivo declarado de construir unidades de produção do H2V – o combustível do Século 21 – no Pecém.
Terceiro: a ArcelorMittal também viu que, ao seu redor e, ainda, na geografia do Ceará, se instalaram e seguem em instalação vários grandes projetos de geração de energia solar e eólica que lhe garantirão a energia renovável de que precisará para alcançar o seu sonho. E qual é ele? Fabricar aqui aços verdes, inclusive os planos, de mais alto valor agregado.
Quarto: ao decidir comprar por US$ 2,5 bilhões a siderúrgica do Pecém, a alta direção da ArcelorMittal já sabia que 50% das placas de aço produzidas por essa unidade siderúrgica cearense tinha valor agregado, graças à tecnologia de que dispõe. A siderúrgica do Pecém é considerada uma das mais modernas do mundo.
Eram a faca e o queijo que os brasileiros da Vale e os coreanos da Dongkuk e da Posco ofereciam à ArcelorMittal, que fez uma aposta estratégica cuja viabilidade está agora provada.
Este nariz de cera tem o objetivo de levar o leitor a concluir que a notícia aqui publicada ontem, sobre a paralisação de algumas unidades da ArcelorMittal no Brasil – em Resende, Rio de Janeiro; Piracicaba, São Paulo; e Juiz de Fora, Minas Gerais – põe a usina siderúrgica do Pecém em relevo. Por quê?
A resposta é a seguinte: esta coluna conversou ontem com uma fonte ligada à ArcelorMittal. E ela revelou algo de muito valor. A empresa sediada na pequeníssima Luxemburgo tem uma grande unidade siderúrgica em Tubarão, no Espírito Santo. Ela produz, também, placas de aço, mas de qualidade inferior à das placas fabricadas em Pecém, razão pela qual a produção capixaba será reduzida.
Talvez seja por esta razão que a usina siderúrgica do Pecém ampliou, nos últimos meses, o quadro de técnicos do seu setor de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), que conta agora com quase 50 pessoas.
Tem mais: segundo a mesma fonte, o plano da ArcelorMittal de instalar uma laminadora em Pecém será acelerado. Por quê? – é a pergunta, de novo. E a resposta é: porque o aço de Pecém já é de alto valor agregado, podendo, pois, a sua usina siderúrgica passar a produzir, também, bobinas de aço plano, confrontando o similar chinês, que está chegando ao Brasil a um preço menor do que o custo de sua produção. Dumping!!!
Neste momento, o governo brasileiro, por meio da redução da alíquota do Imposto de Importação, está castigando a siderurgia nacional pela facilitação da importação de aço. O mercado de aço brasileiro foi inundado pelo produto estrangeiro, diga-se chinês, no exato momento em que há uma retração da atividade em vários setores da indústria.
O Instituto Aço Brasil e as outras entidades que congregam as grandes siderúrgicas do país mobilizam-se no sentido de pressionar o Palácio do Planalto a rever sua decisão de reduzir a alíquota do Imposto de Importação do Aço, elevando-a para o percentual anterior.
De qualquer maneira, a ArcelorMittal Pecém já está fazendo desse limão uma boa limonada.
Correções: A assessoria da ArcelorMittal Pecém encaminhou a esta coluna algumas observações sobre o texto acima. Ei-las:
"O valor da aquisição da siderúrgica foi de US$ 2,2 bilhões (não US$ 2,5 bilhões);
As placas de aço produzidas na nossa unidade em Tubarão (Espírito Santo) têm especificações que atendem a outros públicos e mercados, com o mesmo padrão de qualidade das produzidas na unidade em Pecém. Elas não têm qualidade inferior, conforme mencionado, apenas especificações diferentes que conferem mais valor agregado em alguns casos;
" Os 50 pesquisadores são do nosso Centro de Pesquisas para a América do Sul, que investem na busca de soluções inovadoras em aço para todas as unidades, não só em Pecém. Aqui no Ceará, estamos em fase de implantação dos aspectos de pesquisa e desenvolvimento."
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