Que confusão! Brasil na encruzilhada da política e da economia
Oposição derrota o governo e elege o comando da CPMI do INSS; PF divulga conversas e discussões de Bolsonaro e seu filho Eduardo; e os bancos temem punição da Lei Magnitsky.
São dias difíceis e complicados os que o Brasil está vivendo na política e na economia.
Ontem, quarta-feira, 20, foi um desses dias muito agitados. Começou cedo, no Congresso Nacional, em Brasília, com a surpreendente vitória da oposição que conseguiu eleger o presidente da Comissão Parlamentar Mista, a CPMI que investigará as causas e os responsáveis pelo escândalo do INSS, onde a Polícia Federal apurou um rombo de R$ 6,5 bilhões, extraídos das contas de milhares de aposentados e pensionistas por uma quadrilha da qual fizeram parte dirigentes e altos funcionários da própria Previdência Social em conluio com entidades sindicais.
Além da presidência, que coube ao mineiro Carlos Viana, do Podemos, a oposição terá também a relatoria da CPMI, entregue ao deputado Alfredo Gaspar, do União de Alagoas.
Os dois dirigentes da CPMI já disseram que o objetivo da comissão é apurar as responsabilidades pelo rombo no INSS, e para isso ouvirão quem deve ser ouvido. Mas o governo, que ainda curta a derrota, está afirmando que tem maioria necessária para impedir a convocação, por exemplo, do ex-ministro da Previdência, Carlos Lupi, estrela do PDT, e de Frei Beto, irmão do presidente Lula, que é diretor de um sindicato envolvido nos desvios de recursos de aposentados e pensionistas.
Toda essa batalha na CPMI terá repercussão no ano eleitoral de 2026.
À tarde, surgiu uma entrevista que o ministro Alexandre de Moraes concedeu à Reuters, uma das mais importantes agências de notícias do mundo. Nela, o ministro Moraes declara que tribunais brasileiros podem punir os bancos nacionais que bloquearem ou confiscarem ativos domésticos em resposta a ordens norte-americanas. Isto quer dizer, por exemplo, que, se o Banco do Brasil vier a suspender o pagamento dos vencimentos do próprio ministro Alexandre de Moraes, ele será punido pelo Supremo Tribunal Federal.
A suspensão desse pagamento será uma consequência prática da decisão do governo dos Estados Unidos que aplicou sanções contra o ministro Moraes previstas na Lei Magnitsky. Essas sanções, deve ser repetido aqui, foram adotadas pelo presidente norte-americano Donald Trump em reação à decisão do ministro Alexandre de Moraes que decretou a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, de quem é amigo.
Trump, numa clara interferência do governo americano em assuntos internos brasileiros, exigiu em nota que o STF suspenda o processo contra Bolsonaro, como se isso fosse possível.
No início da noite de ontem, o caldo da política engrossou quando a Polícia Federal, autorizada pelo ministro Moraes, deu publicidade ao conteúdo das conversas de Bolsonaro com seu filho Eduardo, capturadas do telefone celular do ex-presidente durante a operação que resultou em sua prisão domiciliar.
Nessas conversas, revela-se que Bolsonaro tinha o plano de pedir asilo ao governo da Argentina. Por isto mesmo, o ministro Moraes deu ontem prazo de 48 horas para Bolsonaro se explicar sobre esse pedido de asilo. As conversas revelam, ainda, discussões acaloradas, com palavrões, entre o ex-presidente e seu filho, que está nos Estados Unidos pressionando o governo de Donald Trump a adotar mais sanções contra o Brasil e os ministros do STF.
Bolsonaro será julgado a partir do próximo dia 2 de setembro pelo STF que o acusa de tramar um golpe de estado no dia 8 de janeiro de 2013.
É possível que, até o próximo domingo, diante de tudo o que essas conversas e discussões revelaram, que o ministro Alexandre de Moraes decrete a prisão preventiva de Jair Bolsonaro, que será cumprida não em sua residência, mas em algum presídio.
O que se pergunta, agora, é se o governo dos Estados Unidos reagirá a mais uma decisão do STF contra Bolsonaro.
Resumindo: este caso envolve não só os agentes da política e dos governos brasileiros e norte-americanos, mas também importantes atores do mercado financeiro, como os grandes bancos, entre os quais o Banco do Brasil, que têm negócios e agência no exterior, principalmente nos Estados Unidos.
Os banqueiros brasileiros estão temendo que, por causa da Lei Magnitsky, possam as instituições financeiras brasileiras ser punidas com bilionárias multas em dólares por não cumprirem as sanções contra o ministro Moraes.
Vale lembrar que, na terça-feira, 19, os grandes bancos brasileiros perderam, em valor de mercado, uma montanha do tamanho de R$ 42 bilhões.
Nas rodas da política, o que se comenta agora, por causa desse novo imbróglio envolvendo a família Bolsonaro, é que o nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas surge como o mais forte para unir a direita e a centro-direita na eleição presidencial do próximo ano. Essa hipótese é rechaçada por Eduardo Bolsonaro, mas admitida pelo seu pai, de acordo com o que depreende das conversas entre os dois.
Apesar de toda essa confusão, a Bolsa de Valores fechou o dia de ontem praticamente na estabilidade, com alta de apenas 0,17%, aos 134.666 pontos. E o dólar, que subira no dia anterior, caiu ontem, fechando o dia cotado a R$ 5,47.
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